O presidente demissionário do Chega, André Ventura, apelou ao voto nas eleições diretas para a liderança do partido e traçou como objetivo “governar Portugal”, para efetuar as “mudanças” que o país “efetivamente” precisa. “Nós devemos estabelecer novos objetivos e eu não tenho medo de vos dizer quais são: Nós devemos querer o Governo de Portugal”, disse.

André Ventura falava em Portalegre, na sessão de apresentação da sua recandidatura à presidência do partido, sendo esta a primeira de quatro sessões de esclarecimento que irão decorrer até às eleições diretas no Chega, que estão agendadas para o dia 06 de março. O presidente demissionário recordou no Alentejo que nos últimos dois anos o Chega “cresceu” e conseguiu “ameaçar os alicerces” do sistema político montado entre o PS e PSD.

Nós conseguimos em dois anos tornarmos na terceira força política portuguesa, conseguimos ameaçar os alicerces, afastar todos os outros partidos, o CDS, o Bloco de Esquerda, o PAN e ameaçar os alicerces do sistema montado entre o Partido Socialista e o PSD”, afirmou.

“Devemos querer mais a partir de agora, o Governo deve ser o nosso objetivo porque devemos querer fazer e poder fazer as mudanças que Portugal efetivamente precisa”, acrescentou. André Ventura, que considerou que PS e PSD “nunca” vão efetuar as reformas que o Chega defende para o país, alertou que chegou a hora de o partido traçar como objetivo governar para “dar voz à maioria silenciosa”.

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Durante anos governámos para uma minoria ruidosa, é tempo de dar voz à maioria silenciosa, à maioria que se mata a trabalhar de manhã à noite, à maioria que vê os filhos partir, à maioria que vê Portugal a empobrecer e a ficar atrás da Letónia e da Estónia, à maioria que vê os governantes cada vez mais corruptos e Portugal descer nos índices de corrupção, que vê afastados procuradores, polícias e juízes, é tempo de governar para estes”, defendeu.

André Ventura recordou que o Chega nos últimos dois anos conseguiu criar “quase tantas bases” como os maiores partidos, revelando que já foram atribuídos números de militantes “acima dos 26 mil” no partido. Ao longo de um discurso com mais de 40 minutos, o presidente demissionário do Chega anunciou ainda que o partido espera concorrer a “todas” as câmaras municipais nas próximas eleições autárquicas. Lamentou ainda que o sistema político esteja a trilhar um caminho que passa por “tentar ilegalizar o Chega“, considerando que esta situação transporta Portugal para uma “Venezuelização”. O presidente demissionário do Chega entregou na quarta-feira à Mesa da Convenção Nacional do partido a sua recandidatura a líder em eleições diretas, entretanto marcadas para 06 de março, e subiu a parada para o objetivo de “governar Portugal”.

André Ventura demitiu-se uma segunda vez do cargo na sequência das eleições presidenciais de 24 de janeiro, nas quais foi o terceiro mais votado, mas falhou os objetivos de ficar à frente da ex-eurodeputada do PS Ana Gomes e forçar o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, a uma segunda volta. Segundo a moção estratégica a que a Lusa teve acesso, o deputado único do partido da extrema-direita parlamentar defende que “a III Convenção [Nacional] terá de ser o passo definitivo” [do Chega] para alcançar a presença no executivo do país.

O documento, intitulado “Governar Portugal”, segue-se à moção estratégica apresentada por Ventura nas “diretas” de 05 de setembro de 2020 e na II Convenção Nacional (19 e 20 de setembro, Évora) cujo título era “Mobilizar Portugal” e onde se propunha eleger “deputados regionais já nas eleições para a Região Autónoma dos Açores” e consolidar o Chega “como terceira força política nacional nas próximas eleições legislativas, deixando para trás o PCP, o BE e o PAN”.

Ventura, fundador e militante n.º 1 do Chega, com 38 anos, foi eleito presidente pela primeira vez em 30 de junho de 2019, na I Convenção Nacional, em Algés (Lisboa). Já eleito deputado, o antigo professor de Direito demitiu-se em abril de 2020, após críticas internas sobre a votação no parlamento da renovação do estado de emergência decretado devido à pandemia de Covid-19.

O antigo militante do PSD votara a favor da imposição inicial do estado de emergência, absteve-se depois num segundo, terceiro e quarto momentos e votou contra nas seguintes seis ocasiões. Na altura, recandidatou-se ao cargo e ganhou com 99% dos votos.