O presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Peter Maurer, disse à Lusa que a convergência de crises em Moçambique requer mais apoios de doadores ao país, no qual a instituição vai reforçar a operação este ano.

Os doadores tradicionais agora estão atentos sobretudo à Covid-19 e a grandes crises como as da Síria, Etiópia e mais dois ou três lugares sem ser Moçambique – e sejamos francos: apesar de a situação moçambicana ser séria pela convergência [de problemas], em termos de números há outros lugares que têm mais pessoas deslocadas”, referiu o responsável, que termina uma visita de três dias ao país. “Mas acho que não é assim que devemos pensar”, contrapôs, para lançar um apelo.

Peter Maurer disse estar “profundamente convencido” que é importante que sejam feitos “todos os esforços para convencer os doadores que esta crise é muito importante e precisamos de olhar para ela pela convergência de diferentes crises, como as alterações climáticas, pobreza, violência e Covid-19 juntos num só lugar”, destacou.

Moçambique é um dos países pobres do mundo, com épocas chuvosas desastrosas, sobretudo desde 2019, e onde uma insurgência armada no norte tem crescido nos últimos três anos, provocando uma crise humanitária com mais de dois mil mortos e 560 mil deslocados. A agravar o problema, a pandemia de Covid-19 alastrou, com mais casos, internamentos e mortes só em janeiro que em todo o ano de 2020 – o país tem um total acumulado de 535 mortes, 50.265 casos (63% recuperados) e 294 internados.

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Neste cenário, Peter Maurer anunciou que a organização vai “aumentar a sua resposta humanitária” em Moçambique durante este ano. No caso de Cabo Delgado, além do apoio às necessidades básicas, o CICV prevê reabilitar nove centros de saúde que atendem cerca de 175.400 pacientes, apoiar hospitais especializados no tratamento de feridas traumáticas e apoiar um centro de tratamento para doentes Covid-19.

A província nortenha perdeu 39 das 55 unidades de saúde que havia em nove distritos afetados pelo conflito armado e 686 profissionais de saúde fugiram dos seus locais de trabalho devido à insegurança, segundo dados da CICV.  Haverá também reforço de treino e formação das forças de defesa e segurança moçambicanas, depois de terem sido alvo de críticas por alegadas violações de direitos humanos, especialmente ao longo do último ano.