O presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) apelou esta segunda-feira a um maior respeito pelos direitos humanos no conflito armado em Cabo Delgado, norte de Moçambique, prometendo intensificar a formação dada a militares.

Precisamos de ter melhor comportamento” no respeito “pelas leis e princípios internacionais de direitos humanos”, esta segunda-feira Peter Maurer em entrevista à Lusa no final de uma visita de três dias a Moçambique.

Aquele responsável anunciou um reforço da ação do CICV este ano em Moçambique, sobretudo com foco em Cabo Delgado, mas ao mesmo tempo sublinhou que é necessário promover o respeito por princípios universais.

Nesse sentido, temos um programa de treino importante, positivo e de envolvimento, em particular, com as forças armadas”, no âmbito do objetivo de “tentar sempre desenvolver a promoção dos direitos humanos junto de todas as partes, junto de quem carrega uma arma”, disse.

“Vamos certamente tentar aumentar essas atividades no futuro”, acrescentou, referindo-se a um “memorando de entendimento com o Ministério da Defesa, que já deu resultados positivos no passado”, e adiantou ainda que a organização vai “aumentar atividades de treino”.

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Deixei muito claro, hoje, com o Presidente [Filipe Nyusi] que todas as ferramentas que o CICV desenvolveu no resto do mundo acerca do respeito pelos direitos humanos estão ao dispor das forças armadas moçambicanas”, disse, exemplificando com realidade virtual e manuais, seja para comandantes, seja acerca da cooperação com civis.

É um “assunto complexo” em que “a Cruz Vermelha é especialista e em que tem experiência”.

Temos muitas atividades a decorrer [em Moçambique] e agora vamos tentar aumentar o ritmo, a frequência e fazer treinos específicos”, referiu.

O encontro com Nyusi fez parte do programa desta segunda-feira, último dia em Moçambique.

As Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas foram alvo de duras críticas dentro e fora do país após a divulgação de vídeos, fotografias e relatórios de diferentes organizações sobre alegadas atrocidades cometidas a par do conflito armado em Cabo Delgado.

Um dos casos mais notórios aconteceu em setembro de 2020 quando um vídeo mostrou homens fardados a espancar uma mulher que caminhava sozinha, nua, e que depois acabam por abater pelas costas, enquanto fugia, com várias rajadas de metralhadora.

No caso, o Governo defendeu sempre que as imagens tinham sido “fabricadas” pelos insurgentes de Cabo Delgado ou forças a eles ligados, mas noutros momentos, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, admitiu haver excessos que tinham de ser averiguados.

A violência armada na província nortenha de Moçambique, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

Moçambique. Violência em Cabo Delgado: abrigo é a principal necessidade dos deslocados

Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo jihadista, Estado Islâmico desde 2019.