Cerca de 600 hectares de área ardida em Belver, no concelho de Gavião (Portalegre), estão a ser reflorestados, num investimento que ronda um milhão de euros, anunciaram os promotores da iniciativa. A ação está a ser desenvolvida desde o ano passado pela Terras de Guidintesta, Sociedade de Desenvolvimento Rural, em parceria com a Associação de Produtores Florestais da Freguesia de Belver.

Estamos a falar de uma zona de minifúndio, temos sob nossa gestão cerca de 600 hectares, contratualizados através de 140 contratos e que envolve 500 a 600 pessoas [proprietários]”, explicou Carlos Machado das Terras de Guidintesta, em declarações à agência Lusa.

Depois de quatro incêndios que deflagraram na região em 2003, 2005 e dois em 2017, nasceu este projeto denominado por “Reflorestar Belver” e que conta com o apoio de fundos comunitários e de campanhas de financiamento colaborativo [crowdlending]. O objetivo deste projeto passa por criar uma floresta mais resiliente e sustentável, quer em termos económicos, quer em termos ambientais, com a plantação de “270 mil árvores indígenas”, tais como o pinheiro manso, medronheiro e o sobreiro.

Um ano depois da primeira campanha de “crowdlending” , já foram intervencionados cerca de 90 hectares: destes, 22 hectares já foram plantados e outros 40 hectares já estão preparados nesta altura para a plantação.

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O primeiro projeto abrange cerca de 230 hectares e conta com um orçamento na ordem dos 400 mil euros. Neste momento, estão investidos mais de 100 mil euros e temos em execução mais de 50 mil euros“, disse.

Carlos Machado revelou ainda que, “em breve”, vão também iniciar, no âmbito do projeto, uma componente dedicada à apicultura e às plantas aromáticas.

O objetivo aqui não é reflorestar por si, porque estaria condenado a breve prazo. Nós queremos reflorestar agora e depois fazer a manutenção no futuro, garantindo a viabilidade da floresta com uma mudança da paisagem, diferente do que tínhamos antes, pois eram povoamentos puros de pinheiro e eucalipto“, explicou. “Queremos uma paisagem mais diversificada, num contexto agroflorestar, em que nós consigamos ter alguma capacidade de gestão do fenómeno dos incêndios florestais, caso contrário não é possível e o risco é imenso”, acrescentou.

Além de recorrerem ao apoio de fundos comunitários, o projeto conta com uma vertente de “crowdlending”, através da “fintech” nacional “GoParity”, que aposta em “investimentos sustentáveis” e que mobiliza “quase 10 mil investidores” para o financiamento, para iniciar os trabalhos e para obter o montante remanescente. De acordo com uma nota enviada à Lusa sobre este projeto, no início do ano passado foram angariados 50 mil euros na ‘GoParity’, montante garantido em menos de 24 horas por 123 investidores da plataforma.

Este investimento inicial permitiu a limpeza de parte da área ardida (50 hectares), a eliminação do arvoredo ardido e a preparação do solo para a plantação”, lê-se na nota.

Já a segunda campanha decorreu em setembro, para angariar mais 50 mil euros e, assim, dar continuidade às operações de limpeza e iniciar a plantação.

Por fim, a terceira e última campanha de financiamento, também no valor de 50 mil euros, voltou a fechar em menos de 24 horas, graças à participação de 246 investidores. Esta última tranche vai servir para terminar a plantação na área já preparada e preparar solo na área limpa”, acrescentam.

A ‘GoParity’ permite a qualquer pessoa investir em projetos sustentáveis a partir dos cinco euros e, após o fim da campanha, o investidor que, neste caso, emprestou dinheiro à Terras de Guidintesta recebe mensalmente o valor investido e os juros correspondentes, que “rondam os 5%“.