O secretário-geral da ONU classificou esta sexta-feira o regresso dos Estados Unidos ao Acordo climático de Paris como umdia de esperança“, lembrando, porém, os muitos compromissos ainda por cumprir e a emergência de atuar perante tantos “sinais de alerta”.

Estados Unidos regressam oficalmente ao acordo climático de Paris

No dia em que tomou posse, em 20 de janeiro, o presidente norte-americano, Joe Biden, reverteu a decisão da anterior administração liderada por Donald Trump em relação ao Acordo de Paris e assinou uma ordem executiva a determinar o regresso dos Estados Unidos da América (EUA) ao protocolo climático alcançado numa cimeira na capital francesa em dezembro de 2015.

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O regresso norte-americano ao acordo tornou-se esta sexta-feira oficial.

Hoje é um dia de esperança, uma vez que os Estados Unidos voltam a juntar-se oficialmente ao Acordo de Paris. É uma boa notícia para os Estados Unidos e para o mundo“, referiu António Guterres, em declarações durante um evento que assinalou a (nova) adesão norte-americana.

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Para Guterres, durante os últimos quatro anos, a ausência dos EUA, um “ator-chave”, criou “uma lacuna” no acordo climático e esse elo em falta “enfraqueceu o todo“.

O representante lembrou que o Acordo de Paris, que entrou em vigor em 4 de novembro de 2016, foi um “feito histórico”, mas, segundo lamentou, os compromissos assumidos até à data não foram suficientes e mesmos esses não estão a ser cumpridos.

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Os sinais de alerta estão em toda a parte. Os seis anos que passaram desde 2015 foram os seis anos mais quentes de que há registo. Os níveis de dióxido de carbono (CO2) estão em níveis recorde. Incêndios, inundações e outros eventos climáticos extremos estão a piorar em todas as regiões”, enumerou o secretário-geral da ONU, sem esquecer um possível “aumento catastrófico” da temperatura em mais de três graus no atual século.

Segundo Guterres, que durante o seu mandato fez da questão das alterações climáticas uma das suas prioridades, o ano de 2021 é “crucial”, focando a importância da futura 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26) em Glasgow (Escócia, Reino Unido), prevista para novembro.

A COP26 será um sucesso ou um fracasso. Os Governos irão tomar decisões que vão determinar o futuro das pessoas e do planeta”, frisou o representante, dirigindo palavras concretas aos EUA que, “juntamente com todos os membros do G20 [as 20 maiores economias do mundo]”, irão ter um papel decisivo na realização dos objetivos traçados.

Três objetivos centrais estão atualmente traçados: criar uma verdadeira coligação (de países) global para zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050, alcançar um empenho internacional (com contribuições e medidas concretas) para que exista um progresso exponencial na redução de emissões na próxima década e aproveitar o período pós-pandemia Covid-19 para uma reconstrução mais “forte e melhor” e para uma mudança verdadeiramente “transformadora”.

Em relação ao terceiro objetivo, Guterres reiterou a necessidade de o mundo investir numa “economia verdeque ajudea curar o planeta e a população e “a criar empregos estáveis e bem remunerados para assegurar uma prosperidade mais equitativa e sustentável”.

Nesse sentido, segundo especificou o representante, a eliminação gradual do carvão, a suspensão de investimentos em projetos de combustíveis fósseis prejudiciais para a saúde das pessoas e para a biodiversidade ou a aplicação de novas políticas tributárias (dos consumidores aos poluidores) serão algumas das medidas necessárias para alcançar “uma mudança transformadora”.

Guterres focou ainda a necessidade de diminuir a lacuna financeira verificada no mundo atual, defendendo o apoio aos países que estão a sofrer os impactos devastadores da crise climática.

Estou a contar com os EUA, juntamente com todos os outros membros do G20, para apoiarem estes três objetivos principais e para se comprometerem nas negociações internacionais que serão necessárias para o sucesso da COP26″, referiu o secretário-geral, esperando, por exemplo, que a administração Biden apresente em breve os seus planos concretos para alcançar zero emissões líquidas até 2050.

Na fase final da intervenção, António Guterres recordou que o atual enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, quando assinou em 2016 nas Nações Unidas o Acordo de Paris (então na qualidade de secretário de Estado) levou a neta consigo.

O Acordo de Paris é o nosso pacto com os nossos descendentes e com toda a família humana. Esta é a corrida das nossas vidas. Devemos ir muito mais rápido e muito mais longe”, salientou o representante, terminando com a frase: “Vamos ao trabalho”.

Uma das principais metas estabelecidas em 2015 pelo Acordo de Paris era limitar o aumento da temperatura média mundial “bem abaixo” dos 2ºC em relação aos níveis pré-industriais e em envidar esforços para limitar o aumento a 1,5ºC.