Uma reportagem premiada com um Emmy sobre alegadas ligações entre o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e gangues criminosos que controlam a exploração de ouro naquele país contribuiu para sensibilizar a comunidade internacional, acredita o jornalista português Vasco Sousa Cotovio.

O que nós vimos a nível internacional é que passou a prestar-se mais atenção a este tipo de movimentos de ouro, tanto pelos Estados Unidos como pela União Europeia, que começaram a usar uma linguagem semelhante àquela aplicada à extração de diamantes em África, os chamados diamantes de sangue”, disse à agência Lusa.

A reportagem, intitulada “Maduro’s Blood Gold” (O Ouro de Sangue de Maduro), e divulgada pela estação norte-americana CNN em agosto de 2019, sugere a existência de um sistema corrupto que beneficia o regime de Maduro com a troca de ouro por mantimentos ou divisas à margem das sanções internacionais.

O ouro é extraído no sul do país em condições precárias por mineiros em busca de rendimento que são dominados com violência por gangues armados que operam com a convivência dos militares e autoridades venezuelanas perante o desrespeito dos direitos humanos e proteção do ambiente, denuncia a reportagem.

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Poucos meses depois, o líder opositor venezuelano, Juan Guaidó, acusou o Irão de envolvimento no “contrabando” do ouro ao enviar cinco barcos de combustível desde Teerão para Caracas alegadamente pago com ouro extraído ilegalmente.

Em julho, o então o secretário do Tesouro dos EUA Steven Mnuchin decretou sanções económicas a dois “parceiros de confiança” de Nicolas Maduro envolvidos na indústria do ouro da Venezuela, dedicando-se à venda ilegal daquele metal precioso.

Os jornalistas portugueses Vasco Cotovio e Isa Soares fizeram parte da equipa que investigou e produziu o trabalho jornalístico distinguido em setembro passado pela Academia Nacional de Artes e Ciências da Televisão norte-americana com um Emmy na categoria reportagem sobre Economia (Outstanding Business, Consumer or Economic Report).

“Passou a haver mais atenção e mais pressão sobre o governo venezuelano para que isto deixasse de acontecer, mas, no terreno, como o poder continua nas mãos de Maduro, não mudou”, admitiu Cotovio à Lusa.

Formado na Universidade Católica Portuguesa, o português é jornalista na CNN em Londres desde 2014, tendo antes trabalhado no jornal Público e na SIC Notícias. Nos últimos anos aprofundou um interesse profissional pela Venezuela que nasceu das relações próximas que o país tem com Portugal, mas também devido à crise política no país.

Em janeiro de 2019, o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, autoproclamou-se Presidente da República interino e com o apoio de cerca de 60 países, todavia Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez desde 2013, continua no poder.

Em agosto do ano passado, a comunidade internacional, incluindo Portugal, urgiu Maduro e a oposição a entenderem-se para formar um governo de transição e realizarem eleições presidenciais “livres e justas” na Venezuela.

“Estivemos lá em dezembro e o que vimos é que a situação não está melhor. Apesar dos esforços comunidade internacional para serem feitas mudanças políticas, a situação económica continua a deteriorar-se por causa da pandemia de Covid-19″, lamentou Cotovio.