A Galp Energia anunciou um prejuízo de 42 milhões de euros no ano passado, o que compara com um lucro de 560 milhões de euros em 2019. Apesar deste resultado, que reflete os impactos da pandemia, a empresa anuncia a intenção de propor a distribuição de um dividendo de 35 cêntimos por ação, 50% abaixo do distribuído em 2020.

No ano passado, a holding de energia suspendeu pagamento do dividendo intercalar, remetendo a sua distribuição para 2021, mas o valor agora anunciado é um “ajuste do dividendo” que reflete os impactos inesperados resultantes das condições de mercado particularmente adversas”. Para 2021, o conselho de administração indica o objetivo de elevar o dividendo para 50 cêntimos por ação.

O pagamento de dividendos pela Galp em maio do ano passado foi alvo de duras críticas por parte da esquerda no ano passado, mas recebeu a luz verde do Estado que tem cerca de 7% da empresa. O maior acionista é o grupo Amorim.

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Num ano em que as operações da Galp foram fortemente atingidas pela pandemia, obrigando ao encerramento temporário da refinação, o anunciado fecho da unidade de Matosinhos é um dos fatores que penaliza os resultados de 2020. A Galp fez já o registo de 35 milhões de euros para custos de reestruturação e de imparidades e provisões de 247 milhões de euros. O impacto deste fecho, classificado nas contas como não recorrente, é de 200 milhões de euros já depois de impostos. O encerramento da refinaria de Matosinhos será concretizado este ano.

A Galp pode mudar mais rapidamente, diz novo presidente executivo

Acelerar a mudança na direção da empresa e pegar na equipa da Galo e levá-la para um nível mais elevado de performance, foram as duas prioridades referidas pelo novo presidente executivo na sua primeira conference com analistas. Andy Brown, um veterano do grupo Shell que todos conhecem, começou por elogiar a empresa, sua equipa, o portefóleo de ativos e uma marca forte. A Galp já está a mudar — num referência aos investimentos na área das renováveis — mas pode mudar mais rapidamente. E para isso é “preciso clarificar a estratégia e e não ter medo de tomar decisões difíceis.”

O novo CEO teve aliás uma palavra para os trabalhadores da refinaria de Matosinhos, cujo encerramento foi anunciado em dezembro pelo seu antecessor. “O meu coração vai para os trabalhadores que estiveram lá muito tempo. É uma decisão pesada”. Mas não entrou de detalhes sobre o que vai nascer naquele espaço quando questionado sobre a venda de equipamentos da refinaria cujo desmantelamento irá avançar este ano. “Ainda estamos a estudar várias soluções”, para além da manutenção do parque logístico, mas a prioridade é agora para um plano social e para a descontaminação do local.

Remetendo muitas das respostas a perguntas mais concretas para maio, quando for apresentava a nova estratégia da Galp ao mercado, Andy Brown, defendeu ainda que a transição energética deve ser uma oportunidade de investimento para os investidores — não queremos ser apenas valorizados pelos dividendos —  e avisou que é preciso prudência na escolha dos projetos e na remuneração acionista, porque a pandemia ainda não está controlada.

O novo presidente executivo destacou que encontrou dentro da Galp muitos projetos inovadores em estudo, passando pelo hidrogénio e Sines, mas também pela cadeias baterias elétricas e solar. O reforço das renováveis e criação de uma base de produção nesta setor é um dos objetivos, com Andy Brown a admitir investimentos fora da Península Ibérica para crescer mais. A Galp vai prosseguir com os investimentos na exploração e produção de petróleo e, sobretudo de gás natural onde o novo CEO não fechou a porta à possibilidade de a empresa portuguesa (descrita pelos analistas como um parceiro silencioso em vários projetos) se tornar um operador.

Questionado sobre as dificuldades de rentabilidade na área da refinação na Europa, Andy Brown assinalou que será preciso avaliar que investimentos terão de ser feitos na refinaria de Sines para garantir que a sua operação seja competitiva no quadro da Península Ibérica.

Com o anúncio do corte para metade dos dividendos a pagar este ano, as ações da Galp chegaram a cair mais de 4%, mas fecharam a negociação com perdas mais limitadas de 0,5%.

Vendas de produtos petrolíferos caíram 18% em 2020

A atividade de refinação e distribuição de combustíveis foi a mais penalizada pelos efeitos da Covid-19. As vendas de produtos petrolíferos recuaram 28% face a 2019, com os resultados operacionais a fixarem-se em 210 milhões de euros negativos. As vendas de gás natural caíram 27%. E apesar de se prever uma retoma, não é expetável o regresso aos níveis pré-pandemia.

Para além da queda inédita no consumo de combustíveis, as contas da Galp foram ainda castigada pela forte desvalorização dos preços do petróleo. Considerando os efeitos da valorização dos stocks os resultados anuais da Galp foram de 551 milhões de euros negativos. Por isso, e apesar de um aumento da produção, o resultado operacional do negócio de exploração e produção caiu 66%

A nível do grupo, o cash-flow (margem) operacional caiu 46% para 1.025 milhões se euros, mas o free cash flow foi positivo de 42 milhões de euros “num dos anos mais desafiantes para o setor e considerando a relevante aquisição estratégica realizada na divisão das renováveis” que foi concretizada em 2020.

Do lado positivo, as contas refletem mais-valias de 99 milhões de euros geradas com a venda da 75% da Gás Natural Distribuição, empresa gestora das redes de gás, uma operação que só irá concretizar-se em 2021 por 368 milhões de euros.

A empresa investiu 800 milhões de euros no ano, baixo da meta de mil a 1,2 mil milhões de euros fixada para 2020. Parte substancial deste investimento foi canalizada para a aquisição de capacidade de energia renovável da empresa espanhola Acciona. Com a chegada de um novo presidente executivo Andy Brown, a expetativa é de acelerar a transição para as energias não fósseis.

Com as economias ainda sob o efeito do confinamento e das medidas de restrição, a Galp reviu em baixa as suas perspetivas para este ano, mas espera uma recuperação nos resultados — que no último trimestre de 2020 já foram positivos — e no cash-flow. O investimento deverá baixar para 500 a 700 milhões de euros.

Atualizado com declarações do novo presidente executivo da Galp e fecho das ações na bolsa.