Olhar em demasia para a árvore sem ver a floresta, erro 1. Na antevisão do encontro no Olímpico de Roma, houve uma dose superior ao que era expectável de equilíbrio atribuída à eliminatória pelo bom momento que a Lazio ia atravessando, conseguindo oito vitórias nos últimos dez jogos onde apenas perdeu com Atalanta (Taça) e Inter (Serie A), e pela má fase do Bayern após a conquista do Mundial de Clubes, empatando num campo coberto de neve frente ao Arminia Bielefeld e perdendo em Frankfurt na última jornada diante do Eintracht de André Silva.

Olhar em demasia para a árvore sem ver a floresta, erro 2. Apesar de nunca terem sido companheiros nem rivais mais “diretos”, Immobile e Lewandowski têm uma história que se cruza, quando o italiano foi contratado ao Torino pelo B. Dortmund para substituir o polaco que entretanto tinha saído para o Bayern e destacou que era o presente e o futuro da nova equipa (dizendo que o antecessor fazia apenas parte do passado). E ficaram na última temporada com mais uma, com Immobile a conseguir o único troféu que Lewandowski não ganhou: a Bota de Ouro de melhor marcador das ligas europeias, chegando aos 35 golos na Serie A quando o polaco fizera apenas pelos 34 numa Bundesliga que acabara muito antes. Ainda assim, e apesar de todas as comparações e da tentativa de criar um duelo particular entre ambos, estão em patamar distintos no plano individual e coletivo.

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Olhar em demasia para a árvore sem ver a floresta, erro 3. Também pelo momento que as equipas atravessavam, a ideia passou muito por olhar pela boa organização defensiva da Lazio e a capacidade que o conjunto de Simone Inzaghi apresentava nas saídas em transições para cruzar com um dos (raros) pontos menos fortes do Bayern, essas transições que nem sempre têm sido bem feitas nos últimos jogos; ao invés, não se olhou tanto para aquilo que os bávaros conseguem fazer no plano ofensivo, mesmo sem contar com nomes como Müller, Gnabry ou Douglas Costa (além de Pavard e Tolisso), e para a capacidade que têm enquanto campeões europeus em título.

Três aspetos importantes num jogo que já ia nos 3-0 ao intervalo. Isso mesmo, 3-0 apenas em 45 minutos de uma primeira mão dos oitavos da Champions. E com o Bayern a mostrar que os dois jogos na Bundesliga foram apenas percalços sem consequências de maior (erro 1), com Lewandowski a provar que muitas vezes nem precisa de ter uma oportunidade para conseguir marcar na mesma (erro 2), com o conjunto de Hansi Flick a ligar a versão rolo compressor e dar um recital em termos atacantes, podendo conseguir até outro resultado (erro 3). Voltou a melhor versão dos alemães, nasceu uma estrela inglesa nos alemães – para os alemães ou não, logo se verá.

Robert Lewandowski, o melhor marcador da última edição da Liga dos Campeões, inaugurou o marcador logo aos nove minutos, aproveitando um passe errado de Musacchio para se antecipar a Pepe Reina, fintar o guarda-redes espanhol e encostar para o 1-0. Leroy Sané marcou o 3-0 a três minutos do intervalo, beneficiando de mais um “buraco” em termos defensivos explorado pela velocidade das unidades ofensivas para encostar na área. Pelo meio, brilhou Jamal Musiala. Com um golo, com vários pormenores, com muito futebol – e uns recordes à mistura.

O jovem médio de 17 anos (faz os 18 na sexta-feira) nascido em Estugarda mas com dupla nacionalidade alemã e inglesa mudou-se com sete anos para Londres e destacou-se pelo Chelsea até 2019, altura em que foi contratado pelo Bayern para jogar na equipa B. Na última época ainda fez um jogo no conjunto principal, esta temporada tem sido aposta mais recorrente com mais de 900 minutos feitos em 27 jogos para cinco competições distintas. Se o Bayern encontrou uma pérola para o futuro, a seleção da Alemanha tenta fazer o mesmo, estando nesta altura a haver uma disputa com a Inglaterra para contar com o jogador para o conjunto principal, depois de ter estado nos Sub-21 dos britânicos. Para já, vai espalhando magia, tornando-se o mais novo de sempre a marcar pelos bávaros na Champions, o inglês mais novo de sempre a marcar na Champions e o segundo mais novo a marcar em jogos a eliminar na Champions. Tudo no quarto encontro na competição, o segundo como titular.

No segundo tempo, Acerbi aumentou a vantagem do Bayern com um desvio infeliz para a própria baliza após um cruzamento de Leroy Sané (47′) e o máximo que a Lazio conseguiu foi aproveitar uma descompressão defensiva dos bávaros para reduzir por Correa (49′). 11 contra 11 e, no final, ganharam os alemães. Ganharam não, golearam. Pelo menos em campo porque, fora dele, a luta com os ingleses vai continuar para terem Musiala na Mannschaft.