A companhia de teatro Leirena, de Leiria, vai atribuir uma bolsa de criação artística no valor de mil euros, para “dar o exemplo” de como é possível apoiar o setor cultural em tempo de pandemia, incentivando a produção.

“Queremos dar todas as condições a quem vier para poder fazer o que mais ama. E queremos dar um exemplo de como é possível apoiar neste contexto, incentivando a criação. Todos nós temos de dar o exemplo, em qualquer área que for”, explicou o diretor do Leirena Teatro, Frédéric da Cruz Pires.

Aberta a artistas nacionais ou internacionais, individuais ou coletivos, a bolsa prevê uma residência artística a realizar entre 10 de maio e 19 de junho, com apresentação final a 20 de junho, na programação do festival de teatro comunitário Novos Ventos, que circula por freguesias do concelho de Leiria.

Frédéric da Cruz Pires assume que esta é uma “tomada de posição”: “Se teatros municipais e teatros nacionais deveriam fazer a mesma coisa? Acho que sim. Porque o não fazem, não sei. Se calhar porque não têm um orçamento grande”, diz o responsável, lembrando que o grupo que dirige tem “um orçamento precário”.

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Contudo, “se formos bastante criativos”, é possível “manter a criação, manter os projetos e manter a economia cultural”.

“O problema não fica resolvido com um apoio. Tem de haver investimento financeiro na cultura”, afirma Frédéric da Cruz Pires. “Não é possível começar o desconfinamento do zero”, pelo que é necessário “dar a oportunidade aos artistas, às estruturas, para poderem criar”.

O Leirena, que subscreveu a carta aberta dirigida ao primeiro-ministro criticando a ausência de propostas de investimento do Governo na Cultura no Plano de Recuperação e Resiliência, censura a política de “apoios excecionais”.

“Não se pode tapar o sol com a peneira. É preciso haver um aumento do orçamento para a Cultura, que incentive a criação e a internacionalização. Não pode ser só ‘tomem lá e fiquem calados'”, declarou.

A bolsa agora proposta pela companhia surge após os projetos “Estado de Exceção” e “Teatro do Globo”, especialmente pensados para o confinamento, terem sido recusados em vários municípios: “Muitos municípios estão fechados em si e a contratar as estruturas dos seus concelhos. Não tenho nada contra, é um salve-se quem puder. Mas se as coisas se mantiverem assim, não haverá investimento nem evolução”.

Suportada pelo Leirena e por um dos seus mecenas, a Fundação Caixa Agrícola de Leiria, o apoio inclui, além dos mil euros, subsídio de alimentação e custos de alojamento. No total, Frédéric da Cruz Pires admite um custo total de produção “a rondar os três mil euros”, porque “haverá apoio na criação da imagem, grafismo, cenografia, acompanhamento técnico e, claro, o uso do espaço de ensaio”.

A seleção vai privilegiar propostas que incluam “inovação, contemporaneidade e comunidade”, de qualquer área artística, “desde que apresentem caráter performativo”. As candidaturas podem ser submetidas pelo e-mail diretor@leirenateatro.pt.