Vários milhares de pessoas protestaram esta terça-feira, na Geórgia, contra a detenção do líder do principal partido de oposição, medida que pode agravar a crise política que se vive no país desde as legislativas de outubro.

Os manifestantes reuniram-se frente à sede do Governo, em Tiblissi, para contestar a detenção do líder do Movimento Nacional Unido (MNU), Nika Melia, e exigir eleições antecipadas.

A detenção aconteceu esta terça-feira de manhã, quando centenas de agentes da polícia usaram gás lacrimogéneo contra os seus apoiantes e os líderes de todos os partidos de oposição, que estavam acampados em frente à sede do Movimento Nacional Unido (MNU) há quase uma semana, e arrastaram Nika Melia das instalações para o colocar em prisão preventiva.

Dezenas de apoiantes também foram presos durante a operação, que foi imediatamente denunciada pelos aliados norte-americanos e britânicos da Geórgia.

Nika Melia é acusado de ter organizado “violência em massa” durante grandes manifestações realizadas em 2019, acusações que o político rejeita, mas pelas quais pode ser condenado a nove anos de prisão.

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Precisamos urgentemente de eleições livres e justas para nos livrarmos deste Governo que está a destruir a nossa democracia”, defendeu uma manifestante, Ilia Togonidzé, em declarações à agência francesa de notícias AFP.

A oposição convocou uma nova manifestação para sexta-feira, em Tiblissi.

A contestada detenção do político georgiano ocorreu após o primeiro-ministro, Giorgi Gakharia, se ter demitido na quinta-feira, alegando um desacordo interno no partido no poder sobre a aplicação da ordem judicial para prender Melia.

Tanto a embaixada dos Estados Unidos como a do Reino reagiram esta terça-feira de manhã à detenção, tendo os norte-americanos afirmado que a Geórgia “voltou atrás no seu caminho para se tornar uma democracia mais forte”, enquanto o embaixador britânico, Mark Clayton, se disse “chocado com o que aconteceu na sede do MNU”.

O Ministério do Interior da Geórgia garantiu, entretanto, que a polícia “usou força proporcional e meios especiais” durante a operação.

A detenção de Melia, de 41 anos, pode enfraquecer ainda mais a democracia na Geórgia, que já enfrenta uma crise política latente desde as eleições legislativas de outubro, quando os partidos da oposição contestaram os resultados da votação depois de o Georgian Dream (O Sonho Georgiano, em tradução livre), o partido no poder, ter obtido uma vitória por pouco.

Na segunda-feira, o parlamento confirmou a nomeação do ministro da Defesa, Irakli Garibashvili, como primeiro-ministro, tendo este anunciado que a sua primeira medida seria deter Melia.

O novo primeiro-ministro é visto como um apoiante leal de Bidzina Ivanishvili, fundador do partido Georgian Dream e o homem mais rico do país, suspeito de controlar secretamente o poder.

No poder desde 2012, o partido Georgian Dream viu a sua popularidade cair devido à estagnação económica que o país vive e a acusações de estar a danificar os princípios democráticos daquela ex-república soviética.