O Millennium BCP anunciou esta quinta-feira ao mercado que os lucros baixaram para 183 milhões de euros em 2020, o que é comparável aos mais de 300 milhões do ano anterior. Este foi um resultado que foi, acima de tudo, penalizado pelo facto de o facto ter registado imparidades e colocado de parte provisões num valor superior a 800 milhões, ao que não é alheio o receio sobre o impacto da pandemia na economia no presente e no futuro. O presidente-executivo do banco diz que as moratórias em Portugal estão entre as mais elevadas na Europa porque o Estado português, muito endividado, pôde ajudar menos as empresas e as famílias.

A informação foi apresentada em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e explicada em conferência de imprensa liderada pelo presidente-executivo do banco, Miguel Maya. “Foi um ano extremamente complexo, cheio de ambiguidades e incertezas”, disse o presidente da comissão executiva do banco, ao mostrar uma apresentação onde se lê que o exercício foi “fortemente condicionado pelos impactos decorrentes da pandemia provocada pela Covid-19, que se materializaram em boa parte na constituição de imparidades adicionais para risco de crédito, na necessidade de reavaliação dos fundos de reestruturação empresarial e na redução dos proveitos gerados pelas comissões relacionadas com a atividade bancária”.

Especificamente na atividade em Portugal, “o resultado líquido cifrou-se em 134,5 milhões de euros em 2020, situando-se 7,2% aquém dos 144,8 milhões de euros apurados em 2019, tendo sido particularmente penalizado pelo reforço das imparidades e provisões”, acrescenta o Millennium BCP, sublinhando que subiu o resultado core do banco quando se exclui o efeito das imparidades e provisões. Maior quebra houve na atividade internacional, onde os lucros caíram de 144 para 48,5 milhões de euros em 2020.

O banco indicou, também, que tem mais de 102 mil moratórias concedidas às famílias. Sobre as moratórias, o BCP garante que “o Grupo irá continuar a avaliar continuamente a situação, por forma a adaptar-se à evolução que a pandemia venha a assumir, tendo sempre presente a preocupação com a proteção de colaboradores e clientes bem como o reforço da componente de carácter social”.

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Numa versão mais longa da apresentação de resultados, o BCP mostra que tem 8.568 milhões de euros em moratórias “vivas”. Nas famílias são 4.085 milhões de euros em créditos cujas prestações não estão a ser pagas (90% é crédito hipotecário) e nas empresas são 4.483 milhões de euros. Na área dos particulares (famílias), a maioria (82%) dizem respeito à moratória pública – que está previsto terminar em setembro – e o restante à chamada “moratória privada”, iniciativa da Associação Portuguesa de Bancos (APB), que têm datas de vencimento diferentes, incluindo já neste mês de março.

Miguel Maya reconheceu que a banca portuguesa está, na Europa, entre os sistemas com mais moratórias em proporção do PIB mas associou isso, em parte, às diferenças que marcaram os diferentes pacotes de apoio público às economias em cada país – ou seja, dando a entender que Portugal, por ser um Estado muito endividado, não pôde apoiar mais as empresas e as famílias e, portanto, a solução passou muito mais pelas moratórias bancárias.

Por outro lado, depois de sublinhar os custos suportados pelo banco com contribuições para o fundo de resolução nacional (além do europeu), Miguel Maya comentou que esse é um encargo que equivale a um trimestre de resultados no banco. E, na conferência de imprensa, Miguel Maya aproveitou também, questionado pelo Observador sobre o tema, para comentar o aumento de comissões anunciado pelo banco digital Revolut, defendendo que serviços como esse, que vivem anos graças a “sucessivos aumentos de capital, parece que agora têm de cobrar comissões, vão-se aproximando da dura realidade que é ter de cobrar pelos serviços que prestam”.