O baixo nível escolar e do grau de inglês ou francês “são dos principais fatores que levam os portugueses” a falharem a obtenção de residência permanente no Canadá, disse à agência Lusa uma consultora de imigração.

“Uma das dificuldades que os portugueses têm tido, o que os leva a não serem elegíveis para os programas de imigração é porque não têm um nível de educação alto e o grau de inglês ou francês é muito baixo. Este é o problema maior”, afirmou Renata Brum. No entanto “é algo que está a mudar” e nos últimos anos já se podem ver “portugueses com alguma qualificação profissional e estudos universitários”, realçou.

Natural de Rabo de Peixe (Açores), no Canadá desde os seus quatro anos, a luso-canadiana, de 52 anos, foi juíza de Cidadania entre 2006 e 2012 e juíza principal de Cidadania entre 2013 e 2018.

O sistema de imigração criado pelo Governo Federal baseia-se numa classificação em que são dados pontos sobre vários fatores, descreve a consultora, dando como exemplo a idade dos candidatos, “pois quando mais novos melhor”, ou o conhecimento de uma das línguas oficiais, “quanto mais alto for melhor”, e o próprio nível de estudos.

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“Quantos mais pontos tiverem, mais facilmente poderão ser aprovados para a residência permanente no Canadá. Não falo apenas no programa Express Entry, mas estes fatores — educação, conhecimento de uma das línguas oficiais — contam também nos outros programas”, acrescentou.

Dados enviados à Lusa pelo gabinete de comunicação do Ministério de Imigração, Cidadania e Refugiados do Canadá (IRCC, sigla em inglês) revelam que entre 2015 e 2020 as autoridades do país atribuíram 4.785 autorizações de permanência no país a cidadãos portugueses.

Um número relativamente baixo, comparativamente com os quase 20 mil, de residências permanentes a brasileiros no mês período, um valor que não surpreende a luso-canadiana.

Não é nenhuma surpresa para mim, porque quando era juíza de Cidadania nas cerimónias encontrava pessoas de várias partes do mundo e reconhecia alguns nomes portugueses. A maioria era do Brasil”, explicou.

Renata Brum, que agora é consultora de imigração, revela que os brasileiros “têm uma educação elevada” e pertencem a uma faixa etária muito nova dos “25 aos 35 anos” e procuram o Canadá porque “é um país de oportunidades”.

Dados do IRCC indicam que foram atribuídos a cidadãos oriundos do Brasil 19.155 residências permanentes no período entre 2015 e 2020. Uma grande parte são estudantes internacionais e procuram o país norte-americano para estudar inglês ou francês, sendo-lhes atribuída uma autorização de trabalho temporário válida por um período de três anos.

Quanto aos outros países lusófonos, foram garantidas 220 residências permanentes a angolanos e 15 a cidadãos de Guiné-Bissau no mesmo período.

A IRCC indica que o Canadá atribuiu um total 1.380.360 residências permanentes nos últimos cinco anos. Os dados de 2021 ainda não estão disponíveis. Os níveis de imigração do Canadá baixaram 46% por cento, o nível mais baixo nas últimas duas décadas.

As medidas de quarentena e de restrições devido à pandemia são a principal causa na queda deste número. Em 2020, o Canadá acolheu 184.370 residentes permanentes, um número inferior aos 341 mil pretendidos. No plano de 2021 a 2023 são esperados 411 mil residentes permanentes anualmente.

Para este ano, Otava tinha como objetivo acolher 401 mil novos residentes, mas para já não se sabe se será possível alcançar esta meta. O Canadá espera em setembro ter os cerca de 38 milhões de habitantes vacinados contra o novo coronavírus, o que poderá um regresso à normalidade, com a suspensão das restrições nas viagens. Segundo dados do Governo canadiano, residem no país mais de 480 mil portugueses e lusodescendentes.