Oito anos depois de ter tomado a decisão de renunciar à liderança da Igreja Católica, o papa emérito Bento XVI rejeita “teorias da conspiração” em torno da resignação e garante que escolheu afastar-se “de plena consciência”.

Numa entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera publicada esta segunda-feira, o papa Ratzinger criticou também os “fanáticos” que recusam aceitar a decisão voluntária do alemão, atribuindo-a a vários fatores de pressão externa.

“Foi uma decisão difícil, mas tomei-a de plena consciência e penso que fiz bem”, disse Bento XVI.

“Alguns dos meus amigos um pouco mais ‘fanáticos’ ainda estão irritados, não quiseram aceitar a minha escolha. Penso nas teorias da conspiração que se seguiram: alguns disseram que foi por causa do escândalo do Vatileaks, outros por causa de uma conspiração do lóbi gay, outros por causa do caso do teólogo conservador lefebvriano Richard Williamson. Não querem acreditar numa escolha consciente. Mas a minha consciência está ótima”, acrescentou.

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Noutra crítica direta à ala mais conservadora da Igreja, nomeadamente àqueles que têm recusado aceitar a legitimidade do Papa Francisco por considerarem que Bento XVI renunciou por pressão externa — e, por isso, invalidamente —, Ratzinger não deixou dúvidas: “Não são dois papas. O Papa é um só.”

Bento XVI falou ainda sobre a viagem inédita do Papa Francisco ao Iraque, agendada para a próxima sexta-feira. “É uma viagem muito importante. Infelizmente, acontece num momento muito difícil, que também a torna numa viagem perigosa. Por motivos de segurança e pela Covid. E depois há a situação instável do Iraque. Vou acompanhar Francisco com as minhas orações.”

Pela primeira vez, um Papa vai ao Iraque. Francisco quer “assegurar presença cristã” na raiz do Cristianismo

Questionado acerca do novo Presidente norte-americano, Joe Biden, o papa emérito procurou pôr água na fervura relativamente às polémicas que têm envolvido a sua identidade católica.

“É verdade, é católico e observante. E pessoalmente é contra o aborto. Mas, como Presidente, tende a apresentar-se em continuidade com a linha do Partido Democrata. E sobre a política de género ainda não percebemos bem qual é a sua posição”, disse.

Joe Biden tem sido criticado abertamente por vários bispos católicos norte-americanos uma vez que, apesar de se assumir publicamente como católico (o segundo da história americana, a par de Kennedy), defender o direito ao aborto. Por altura da tomada de posse, os diferentes pronunciamentos públicos de responsáveis da Igreja sobre Biden aprofundaram a discórdia entre católicos a propósito do novo Presidente americano.

Posição do católico Biden sobre o aborto aprofunda discórdias na Igreja no dia da tomada de posse