O Presidente de São Tomé e Príncipe, Evaristo Carvalho, disse esta terça-feira que os casos oficiais de novas contaminações e mortes diárias por Covid-19 no seu país “devem esconder uma realidade bem mais sombria”.

Evaristo Carvalho, que falava na abertura da 10.ª Reunião de Alto Nível de Seguimento da Resposta à Pandemia de Covid-19, lembrou que no encontro anterior, em 15 de janeiro, convocado devido ao “aumento brusco de novos casos de contaminação ocorridos após a quadra festiva do Natal”, se adotaram novas medidas que não surtiram efeito.

“O facto é que decorridos 45 dias, o panorama não só não melhorou, como tende a piorar a cada dia”, lamentou o chefe de Estado.

“Chegam-me relatos, segundo os quais, muitos cidadãos com sintomas graves, por receio de eventual internamento no hospital de campanha, não contactam os centros de saúde e limitam-se a ficar em casa a beber chá e mais chás”, afirmou Evaristo Carvalho.

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O Presidente são-tomense acrescentou que estes pacientes, “quando as coisas se complicam”, são “encaminhados de urgência aos centros de saúde, infelizmente tarde de mais”.

“Outros acabam por falecer em casa, e não entrando, deste modo, nas estatísticas de óbito por Covid-19”, frisou.

No discurso de abertura da reunião, iniciada com hora e meia de atraso, Evaristo Carvalho considerou “insignificante” o número de testes realizados diariamente, levando “em conta a necessidade de rastreio nas comunidades”. O Presidente são-tomense manifestou “preocupação” em relação aos anúncios diários dos números de “novas contaminações” e aos testes realizados.

“A questão é: 25 casos positivos em quantos testes realizados? 25 casos positivos em 50 testes é, seguramente uma situação altamente preocupante. Significa que 50% das pessoas testadas estão contaminadas o que constitui grande sinal de alerta”, salientou Evaristo Carvalho, instando o Ministério da Saúde a publicar “pelo menos numa base semanal o indicador de relevo” entre a relação dos testes positivos e realizados.

O chefe de Estado são-tomense quer “aprofundar” o conhecimento de “aspetos de natureza técnico-científica dos testes e tratamentos sobre a Covid-19“, para que, de uma vez por todas, ser elucidado “sobre as causas profundas desse persistente aumento de novas contaminações que tende a piorar a cada dia”.

“Embora haja baixa testagem, julgo que o conhecimento da evolução semanal da taxa de testes positivos poderá dar-nos uma ideia da evolução da situação epidemiológica”, pediu o Presidente.

Evaristo Carvalho considerou que a pandemia de Covid-19 está a apresentar uma “evolução catastrófica” no seu país e manifestou dúvidas de que as três medidas básicas definidas pela Organização Mundial da saúde (OMS) e pelo Governo, designadamente usar máscaras, higienizar as mãos e manter distanciamento social estejam a ser observadas. O chefe de Estado acredita que várias autoridades do país, incluído as câmaras distritais e agentes de segurança dos serviços bancários e outras instituições não estão a cumprir com rigor essas medidas, acusando igualmente os órgãos públicos de comunicação social de não fazerem “o suficiente para a sensibilização e denúncias” destes casos.

“De que vale decretar medidas se as entidades responsáveis não as fazem respeitar?”, questionou Evaristo Carvalho.

“A acrescer a essas situações de aparente comodismo e deixar andar, há a necessidade de procurarmos saber se os casos indicados como encontrando-se em vigilância domiciliar são de facto sujeitos à vigilância”, apontou também.

O chefe de Estado perguntou ainda: “Quantas pessoas testadas positivas ou contactos de pessoas positivas não circulam nos táxis, espalhando o vírus à esquerda e à direita?”. A 10.ª Reunião de Alto Nível de Seguimento da Resposta à Pandemia de Covid-19 deve prolongar-se até ao final da tarde, prevendo-se que possam ser tomadas  novas medidas sanitárias restritivas.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.539.505 mortos no mundo, resultantes de mais de 114,3 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP. São Tomé e Príncipe registou até segunda-feira 30 mortes e 1.828 casos de Covid-19. A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.