O artigo arranca com uma frase de Silas, antigo treinador do Sporting e atual técnico do Famalicão. “Como substituir Bruno Fernandes? Precisávamos de três jogadores para o substituir. Não há ninguém como ele em Portugal”, disse, na antecâmara da saída do médio português para o Manchester United. A verdade é que continua a não existir ninguém como Bruno Fernandes a jogar em Portugal. Mas, para a BBC, o Sporting conseguiu encontrar um substituto à altura “muito antes do expectável”.

No site da emissora inglesa, surge esta terça-feira um artigo inteiramente dedicado a Pedro Gonçalves, o “médio ofensivo de 22 anos que teve uma passagem com pouco sucesso pelo Wolves mas já parece ter sido uma pechincha que custou menos de sete milhões”. Considerando que o antigo jogador do Famalicão não é tão influente como Bruno Fernandes na movimentação global da equipa — algo indubitável –, o artigo recorda que o médio leonino até tem sido mais produtivo no que toca a golos: na primeira metade desta temporada, fez 14 golos e duas assistências em 15 jogos na Primeira Liga, sendo que o jogador do Manchester United chegou a meio de 2019/20 com oito golos e sete assistências. Existindo ainda o pormaior de que Gonçalves, ao contrário de Fernandes, marcou todos os 14 golos de bola corrida, sem recurso a penáltis, pontapés de canto ou livres. Um “finalizador letal”, diz a BBC.

Pedro Gonçalves, o “chatinho” para os adversários que viveu com Rúben Neves e agora vai ser reforço do Sporting

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“Quando o trouxemos do Wolverhampton ele era um jogador quase sem minutos. Não era, obviamente, o jogador que é agora. Mas percebe claramente o jogo e os seus momentos, algo que faz a diferença no futebol de alto nível. Comigo, teve a oportunidade de jogar em várias posições do meio-campo, como duplo pivô, como avançado e como e número ’10’. Esta temporada, estamos a vê-lo num papel mais adiantado, mais perto das zonas de finalização, com mais envolvimento nos golos. Está a revelar uma capacidade de chegar ao último terço e de atacar que eu desconhecia, por isso tenho de dar os parabéns ao Rúben Amorim. É o sonho de qualquer treinador ter um jogador tão versátil como o Pedro”, disse João Pedro Sousa, treinador que deixou o Famalicão esta temporada e que foi adjunto de Marco Silva na Premier League, à BBC.

A reportagem indica ainda que o momento de forma de Pedro Gonçalves tem sido instrumental para a campanha positiva do Sporting, “que ainda não perdeu no Campeonato e está com nove pontos de vantagem na liderança”, recordando ainda que os leões não são campeões nacionais desde 2002. “A pressão de acabar com um período tão longo sem sucesso já quebrou jogadores no passado, mas esse não parece ser um problema para Gonçalves”, pode ler-se, seguindo-se o testemunho de Fábio Martins, médio que está atualmente no Al-Shabab da Arábia Saudita e que na época passada era um dos capitães do Famalicão.

FC Famalicao vs SL Benfica -  Liga NOS

Em ação contra o Benfica, na época passada, ainda ao serviço do Famalicão

“Costumo descrevê-lo como um jogador de rua porque não interessa contra quem está a jogar — pode ser um Pizzi ou um jogador da terceira divisão –, é exatamente o mesmo para ele. Ele não sente a pressão dos jogos grandes. É um bocadinho chato, no bom sentido. Queixa-se muito, está sempre a falar, está sempre a discutir com os adversários. Se calhar é assim que gere a concentração no jogo. Conheço muitos jogadores que são assim, essas coisas são perfeitamente normais”, explicou Fábio Martins, que anteriormente já se tinha referido ao antigo colega de equipa como “chatinho”, algo que não deixa de motivar outra comparação com Bruno Fernandes.

A BBC recorda ainda que Pedro Gonçalves nasceu e cresceu em Vidago, em Chaves, e que o padrasto trabalha no quartel dos bombeiros e a mãe tratava dos equipamentos do clube local. A profissão da mãe fez com que a família vivesse numa casa junto ao estádio do Vidago, algo que terá alimentado a paixão do jogador do Sporting pelo futebol. Aos nove anos, já a jogar no Desp. Chaves, treinou à experiência no Sp. Braga — e é aqui que entra Jaime Leite, o primeiro treinador do médio nas camadas jovens dos minhotos.

“Lembro-me de olhar para ele e pensar: ‘Este rapaz não é jogador, porque é que haveria de o pôr a jogar?’. Era pequeno, um bocado gordinho e parecia que tinha acabado de sair da cama. Era o nosso último treino da semana. No fim, decidi dar-lhe uma oportunidade. Disse-me que jogava em qualquer posição de ataque e lá foi ele. Em cinco minutos, marcou dois golos, um deles com um vólei por cima do guarda-redes. Não queríamos acreditar. Era um fenómeno. Acabamos por trabalhar juntos durante quatro anos e construímos uma relação de pai e filho. É um miúdo fantástico, que veio do nada, não tinha uma família com dinheiro, batalhou sozinho até ao topo e por isso merece toda a atenção que está a ter”, disse Leite, desfazendo-se em elogios ao internacional Sub-21 por Portugal que, segundo a emissora inglesa, está já no radar do Liverpool e do Manchester United.