O diretor da organização não-governamental Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) alertou esta terça-feira que Cabo Delgado vive a pior crise humanitária das últimas décadas, situação agravada pela “atuação violenta” das forças governamentais.

Cabo Delgado vive hoje a pior crise humanitária das últimas décadas com cerca de 600 mil pessoas deslocadas a precisarem de todo o tipo de assistência“, referiu Adriano Nuvunga, durante um ‘webinar’ de lançamento do relatório da Amnistia Internacional (AI) intitulado “O que Vi foi a Morte: Crimes de Guerra no Cabo Esquecido de Moçambique”.

Segundo o ativista, o Governo moçambicano “minimizou” o fenómeno e abordou os primeiros sinais do conflito levianamente, o que levou a província a tornar-se num “palco” de violação de direitos humanos.

“A crise humanitária e o sentimento de insegurança foram agravados pela atuação violenta das próprias Forças de Defesa e Segurança”, declarou Nuvunga, considerando que o conflito ganhou proporções alarmantes em 2020. Para o ativista, o Estado moçambicano deve investigar “seriamente” as violações de direitos humanos que têm sido denunciadas e produzir um relatório “robusto”, mostrando exatamente as circunstâncias e os factos para que haja responsabilização.

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O Estado não pode ficar somente por comentar relatórios, tem de urgente e imediatamente investigar este conflito”, acrescentou.

No seu novo relatório, a AI denuncia violações de direitos humanos cometidas pelos grupos armados que têm protagonizado ataques em Cabo Delgado, as forças governamentais moçambicanas e a “Dyck Advisory Group” (DAG), uma empresa militar privada sul-africana alegadamente contratada pelo Governo para travar os ataques.

O relatório da organização não-governamental de defesa dos direitos humanos é baseado em entrevistas com 79 deslocados de 15 comunidades afetadas pelo conflito desde março do ano passado, período em que os rebeldes protagonizaram um grande ataque à sede da vila de Mocímboa da Praia.

A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.

A violência surgiu em 2017, algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico depois de 2019, mas a origem dos ataques continua sob debate.