O Papa Francisco, na obra “Sonhemos Juntos”, recentemente editada, salienta a importância do “amor de Deus” que nos lembra que “somos um povo” que pode mudar a sociedade para melhor.

“Agora somos o povo de Deus”, afirma Francisco, citando S. Pedro num dos versículos do Novo Testamento, e refere que “a proximidade de Deus chama-nos a estar unidos” em “tempos de crise e tribulação”.

Se, perante o desafio, não apenas desta pandemia [Covid-19] mas de todos os males que nos afligem neste tempo agirmos como um só povo, a vida e a sociedade mudarão para melhor. Isto não é apenas uma ideia, mas sim um chamamento a cada um de nós, um convite para abandonarmos o isolamento autodestrutivo do individualismo, saltarmos para fora da ‘lagoazinha pessoal’ e lançarmo-nos para o rio largo de uma realidade e destino de que somos parte e que, no entanto, estão para além de nós”, afirma o pontífice.

Francisco esclarece: “Quando falo da dignidade do povo quero dizer esta consciência que surge da ‘alma do povo’ da sua maneira de olhar o mundo”. Para o papa, essa dignidade do povo provém “da proximidade de Deus”, uma proximidade, prossegue, que lhe “oferece um horizonte de esperança”.

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O livro “Sonhemos Juntos” é o resultado das conversas do Papa com o escritor e jornalista britânico Austen Ivereigh, durante o primeiro período de confinamento, há cerca de um ano. O livro começou a tomar forma a 27 de março do ano passado, pouco antes da Páscoa, que Ivereigh descreve como “desconcertante”, com “igrejas vazias e ruas desertas”.

A pandemia de Covid-19 é um dos temas de uma conversa em que são abordados, entre outros, os protestos antirracistas após a morte do negro norte-americano George Floyd, o derrube das estátuas, o papel das mulheres e a liderança feminina em tempos de crise, ou a mudança que, segundo Francisco, só pode vir das periferias da sociedade e de uma política focada na fraternidade e na solidariedade.

“Qual é o fruto maior de uma covid pessoal?”, questiona o Papa para em seguida responder: “Eu diria que é a paciência condimentada com um sentido de humor são, que permite que aguentemos e criemos espaço para a mudança”. Para Ivereigh, “Francisco deixou claro que a humanidade se encontra num ponto de inflexão, num tempo de prova, do qual podemos sair melhor ou retroceder drasticamente”.

Na obra, publicada pela Planeta, numa tradução do religioso jesuíta Manuel Losa, o Papa defende a necessidade de um rendimento básico universal e fortes restrições à economia de mercado neoliberal para permitir o acesso ao trabalho e uma maior igualdade e a recuperação ecológica, são outros temas referenciados. As origens da crise ambiental são debatidas pelo Papa que refere o Sínodo realizado em 2019 sobre a Amazónia.

Francisco, nesta conversa, salienta ainda a necessidade de reabilitar a política como “o serviço ao bem comum”. As conversas duraram até agosto do ano passado, e segundo Ivereigh, foi-se tornando “numa colaboração mais do tipo mestre-discípulo”, que veio a terminar “no momento em que Francisco retomava os seus encontros e as pessoas voltavam a aparecer na Praça [de S. Pedro, no Vaticano]”. Para o fechar, o Papa escolheu o poema “Esperança” (2020), do seu compatriota Alexis Valdés.

Austen Ivereigh, que completa 56 anos no próximo dia 25, é autor de duas biografias do pontífice, “Francisco, o Grande Reformador” (2015) e “O Pastor Ferido” (2020).

Francisco foi eleito Papa em março de 2013, 44 anos depois de ter sido ordenado sacerdote na Companhia de Jesus, na Argentina, país para onde emigraram os seus pais de nacionalidade italiana. O Papa Francisco já nomeou uma comissão para consultar peritos internacionais sobre o mundo pós-covid, tendo-lhe pedido para “preparar o futuro”.