O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, afirmou esta quarta-feira que a Guiné-Bissau “não voltará a estar perturbada” por golpes de Estado e lamentou que haja “especialistas em desinformação”.

Em entrevista à agência Lusa por ocasião do seu primeiro ano de mandato, assinalado em 27 de fevereiro, e questionado sobre o que o levou a falar publicamente de rumores de golpe de Estado, o Presidente justificou que a Guiné-Bissau é um país “de rumores” e que é preciso acabar com isso.

Questionado sobre se as suas intervenções públicas não provocam a discórdia, o Presidente disse que as pessoas “costumam avaliar a reação”, mas devem é “julgar a provocação”.

“Para mim a provocação é igual a reação. Qualquer provocação tem uma reação adequada e para mim é muito importante que as pessoas saibam” isso, disse, salientando que não é um homem violento, nem arrogante, mas que gosta de “rigor e disciplina”.

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Mas a Guiné-Bissau nunca mais será um país que estará perturbado, posso garantir, e o José Mário Vaz foi o primeiro Presidente da República que fez a passagem, Umaro Sissoco Embaló fará o mesmo, isso eu posso garantir”, afirmou.

José Mário Vaz foi o primeiro Presidente da Guiné-Bissau a terminar um mandato.

Questionado sobre as relações com o primeiro-ministro, o chefe de Estado voltou a lamentar a existência de “especialistas em desinformação”.

“Eu é que o nomeei, dei posse. Agora não tenho de ter boas {relações] ou más, isso não tem de existir. Temos relações excelentes, cordiais, na base do respeito”, afirmou o Presidente.

Vários analistas guineenses têm apontado para algum mal-estar entre o Presidente e o primeiro-ministro, sobretudo, devido à presença de Umaro Sissoco Embaló em quase todas as reuniões do Conselho de Ministros e à nomeação de um vice-primeiro-ministro, cargo que não consta na orgânica do Governo.

“Eu tenho um guião que é a Constituição da República, eu já fui primeiro-ministro, eu conheço as competências do primeiro-ministro. Não quero usurpar [poderes], eu já sou Presidente da República e comandante Supremo das Forças Armadas”, afirmou.

A Constituição da Guiné-Bissau permite ao Presidente da República presidir às reuniões do Conselho de Ministros “quando entender”.

Questionado sobre aquela dinâmica política, o Presidente salientou que é uma “pessoa muito interventiva” e que “está a acompanhar a ação governamental” porque “o Governo é responsável politicamente junto do Presidente da República e da Assembleia Nacional Popular”.

Umaro Sissoco Embaló afirmou igualmente que a sua responsabilidade com o atual Governo é “dupla”.

“Não só como Presidente da República, mas o Governo, essa maioria, vem da maioria presidencial e por isso é que eu tenho tanta responsabilidade para fazer funcionar este Governo”, sublinhou.

Após a polémica tomada de posse, num hotel da capital guineense e com apenas alguns deputados presentes, o chefe de Estado demitiu o Governo de Aristides Gomes, formado na sequência das legislativas realizadas em março de 2019 e ganhas pelo Partido Africano para a Independência da Guiné Cabo Verde (PAIGC), e ordenou a instalação do Governo de Nuno Nabiam com a ajuda de militares.

Esta decisão levou a comunidade internacional a exigir que Sissoco Embaló nomeasse um Governo que respeitasse os resultados das eleições, mas o Presidente manteve o executivo que integra elementos da coligação de partidos que o apoiou nas eleições presidenciais.

Sobre o seu adversário na corrida às presidenciais e líder do PAIGC, a residir há cerca de um ano em Portugal, o chefe de Estado disse que este pode regressar ao país “quando quiser”.

“Ele é cidadão da Guiné-Bissau. Não tenho problemas com ele. Estar lá ou aqui não me faz diferença. Ele não vive na minha casa, eu não vivo na casa dele”, disse.

Guiné-Bissau apoia recandidatura de António Guterres a secretário-geral da ONU

Umaro Sissoco Embaló apoiará a recandidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas, destacando que as relações com Portugal nunca foram tão próximas.

É óbvio. Sou amigo pessoal de Guterres, conheço o António Guterres há 30 anos. Nós, com Portugal, sempre concertámos e essa concertação é permanente”, afirmou o chefe de Estado guineense, quando questionado sobre um eventual apoio.

O Governo português formalizou em 24 de fevereiro a recandidatura de António Guterres para um segundo mandato de cinco anos como secretário-geral da ONU.

Costa anuncia apoio formal a recandidatura de Guterres à ONU

O atual mandato de António Guterres iniciou-se em 01 de janeiro de 2017 e termina em 31 de dezembro. Em janeiro deste ano, o ex-primeiro-ministro português anunciou a sua disponibilidade para cumprir um segundo mandato de cinco anos entre 2022 e 2026. As Nações Unidas deram início este mês ao processo formal de seleção do próximo secretário-geral da organização, ao pedirem aos 193 Estados-membros que submetessem os nomes de candidatos ao cargo.

Sobre as relações com Portugal, Umaro Sissoco Embaló, disse que a relação entre os dois países nunca foi tão próxima como hoje e que Lisboa é uma “porta de entrada para a Europa”.

Nunca tivemos uma relação de aproximação como temos hoje com Portugal”, afirmou, salientando ser amigo pessoal do primeiro-ministro, António Costa.

Desde que tomou posse como Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló realizou visitas oficiais a vários países africanos, Portugal e Turquia, país com o qual houve um reforço das relações de cooperação, e tem recebido em Bissau vários chefes de Estado africanos.

De espírito sou um diplomata, um homem de relações internacionais e penso que tínhamos de nos reafirmar no concerto das Nações. Isso, já temos. Já adquirimos o nosso espaço. Isso era o que nos faltava já há muitos anos, a presença da Guiné-Bissau no concerto das Nações, impor o respeito“, afirmou Umaro Sissoco Embaló.

Questionado sobre se a nova dinâmica da política externa guineense já está a ter impacto, o chefe de Estado disse que, apesar da pandemia da Covid-19, várias embaixadas abriram no país, nomeadamente Cabo Verde, Marrocos, Turquia.

Em termos económicos, o Presidente considerou que a captação de investimento foi tímida, mas que o último ano foi, sobretudo, dedicado a “trazer credibilidade” ao país.

“Já temos acordo com o Fundo Monetário Internacional. Na semana passada recebemos apoio de mais de 20 milhões de euros. [o apoio] vem do Banco Mundial, do Banco Africano de Desenvolvimento, mas isto tem um nome, credibilidade”, afirmou.