O presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) disse esta quinta-feira recear que a comunidade internacional esqueça a Síria, 10 anos após o início da guerra, afirmando que o seu povo necessita “de um futuro”.

“A comunidade internacional não pode desviar a atenção da Síria. A sua população necessita de uma solução política, de um apoio financeiro (…) e de um futuro“, declarou o suíço Peter Maurer, que deve deslocar-se em breve ao país.

Temo que a comunidade internacional considere a Síria um problema político insolúvel e passe à crise seguinte, deixando milhões de vida destruídas praticamente sem soluções”, adiantou numa conferência de imprensa.

O apelo é tanto mais urgente que as necessidades humanitárias dos sírios não param de aumentar, nomeadamente devido à pandemia de Covid-19.

“Perto de 3/4 da população necessita agora de ajuda humanitária, um aumento de 20% em relação há um ano. A Síria é a maior operação do CICV e a mais complexa no mundo atualmente”, sublinhou Maurer.

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Precisou que “a ajuda humanitária foi bloqueada várias vezes e que 65 voluntários e funcionários foram mortos, além dos feridos e detidos”.

É claro que a Síria se encontra presa numa espiral mortífera, com a guerra, a recessão económica, a pandemia e as sanções” internacionais, assinalou, pedindo à comunidade internacional para chegar a acordo sobre “respostas concretas e medidas práticas“, particularmente a nível humanitário.

O presidente do CICV também sublinhou a importância de reparar “todo o tecido social” na Síria para evitar outros conflitos, mas indicou que isso não será possível se não forem respeitados os direitos, nomeadamente dos detidos, dos deslocados, dos refugiados e das famílias dos combatentes estrangeiros. A propósito, disse, a procura dos desaparecidos é “crucial e urgente”, numa altura em que dezenas de milhares de famílias desconhecem a situação de familiares. “A sua década de dor impede as sociedades de se reconciliarem”, insistiu.

Maurer pediu ainda que os detidos sejam tratados “com humanidade e dignidade”, tenham autorização para manter ligação à família e possam ter uma “certa perspetiva” de regresso a casa. A guerra na Síria causou mais de 387.000 desde o seu início em 2011, assim como 6,5 milhões de deslocados e cinco milhões de refugiados. O conflito continua a dividir a comunidade internacional e as negociações sob a égide das Nações Unidas não registam avanços.