As Nações Unidas, grupos de direitos humanos e o governo dos Estados Unidos condenaram o uso de força letal pelas forças de segurança birmanesas contra manifestantes depois de, na quarta-feira, pelo menos 38 pessoas morrerem durante os protestos.

A organização não-governamental (ONG) de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) denunciou que as forças de segurança birmanesas “parecem estar a tentar cortar as pernas do movimento contra o golpe militar por meio de violência pura e gratuita“.

Richard Weir, investigador de Crise e Conflito da HRW, enfatizou que “o uso de força letal contra manifestantes que estavam a resgatar outros mostra quão pouco as forças de segurança temem ser julgadas pelas suas ações”. Por sua vez, a organização Fortify Rights exigiu que a junta militar, que fez um golpe em 01 de fevereiro, “ponha fim imediatamente aos ataques mortais em todo o país contra manifestantes não violentos e devolva o poder ao governo eleito”.

Na mesma linha, a Associação de Parlamentares para os Direitos Humanos (APHR) da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) expressou a sua rejeição à violência praticada pelas forças de segurança birmanesas, que descreveu como “repugnante”.

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Quando é que o exército vai parar? Está a tentar matar ou prender 80% do país que votou em novembro para expulsá-lo da política de Myanmar”, questionou Charles Santiago, presidente do APHR e parlamentar da Malásia.

As ações das forças de segurança também receberam a desaprovação de Tom Andrews, relator de direitos humanos da ONU, que pediu ao Conselho de Segurança para ver as imagens da “violência chocante desencadeada contra manifestantes pacíficos” antes da reunião por teleconferência do Conselho, na sexta-feira, que tratará do assunto.

No mês passado, o Conselho de Segurança já tratou da crise, mas não condenou o golpe devido à oposição da Rússia e da China, que têm poder de veto, portanto, por enquanto parece improvável que o órgão tome medidas contra os militares.

Os Estados Unidos também reagiram à violência policial, por meio do porta-voz do secretário de Estado, Ned Price, que disse estar “chocado ao ver a horrível violência perpetrada contra a população de Myanmar devido aos seus apelos pacíficos pela restauração do governo civil”.

A enviada especial da ONU, Christine Schraner Burgener, estimou que pelo menos 38 pessoas, incluindo dois menores, tenham morrido na quarta-feira em protestos pacíficos contra a junta militar, violentamente reprimida pelas forças de segurança.

Cerca de 60 manifestantes morreram desde o golpe militar de 01 de fevereiro, que deteve parte do governo, incluindo a líder de facto Aung San Suu Kyi e o Presidente do país.

Os manifestantes exigem que o exército, que governou o país com punho de ferro continuamente entre 1962 e 2011, permita o retorno à democracia e reconheça o resultado das eleições de novembro passado, que foram vencidas pela Liga Nacional para a Democracia (LND), partido da líder Aung San Suu Kyi.