A Monster Jinx edita hoje “Monster Jinx Type Beat”, álbum criado em confinamento, à distância, por um novo coletivo, de cinco produtores, que surgiu de um desafio do clube Musicbox a editoras de música portuguesas independentes.

No ano passado, o Musicbox, em Lisboa, desafiou seis editoras de música portuguesas independentes para criarem projetos originais, no âmbito do projeto Coletivo, apoiado pelo Fundo de Emergência Social — Cultura, da Câmara Municipal de Lisboa, que serão apresentados ao vivo naquele espaço, quando este puder reabrir.

A portuense Monster Jinx é uma dessas editoras e “Monster Jinx Type Beat” o primeiro resultado desse desafio.

Prestes a completar 13 anos de atividade, a Monster Jinx, de acordo com DarkSunn (Bruno Dias), um dos seus fundadores, “prima pela música instrumental”, e embora haja projetos de banda dentro da editora, a maioria dos seus elementos “trabalha sozinho”.

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“Com este desafio [do Musicbox] pusemos em marcha uma ideia que já tínhamos há algum tempo, que era termos uma espécie de banda móvel da editora. Criámos um quinteto, hoje é este quinteto [de produtores – Maria, MAF, DarkSunn, SlimCutz e Vasco Completo], daqui a um ano poderá ser um quarteto ou um trio, com outros artistas, todos dentro da editora”, contou.

O álbum inclui “música nova”, criada em conjunto, em confinamento, à distância, e “que se vai materializar agora neste álbum” cujo título, “Monster Jinx Type Beat”, denuncia o conceito que esteve na sua origem.

DarkSunn recorda que “‘type beat’ é quando se faz um instrumental inspirado nalgum artista, pode haver um Drake ‘type beat’, que é o tipo de instrumentais que o Drake utiliza”.

“Decidimos então criar um Monster Jinx ‘type beat’ – a que é que soaria a Monster Jinx enquanto coletivo a fazer música”, referiu.

Para produtores habituados a criar sobretudo sozinhos, este projeto acabou por ser um desafio.

“Nós que tínhamos esse hábito de criar sozinhos, tivemos a dificuldade de criar em conjunto e à distância: [algo que implicou] muitas conversas e horas perdidas, ou ganhas, no Zoom e muitos ficheiros partilhados uns com os outros”, contou DarkSunn, partilhando que os cinco acabaram por criar “uma espécie de linha de montagem”.

Os temas iam passando de uns para os outros e cada um ia “dando os seus contributos”. “Foi um exercício engraçado, de como é possível criar e conseguir montar isto à distância”, disse.

O desafio do Musicbox inclui a apresentação ao vivo do projeto, ainda sem data prevista visto que aquele clube se encontra encerrado desde março do ano passado.

No entanto, essa apresentação já está a ser planeada: “Ao vivo queremos criar o ‘espetáculo’ da Monster Jinx, sendo nós a banda da Monster Jinx”.

“Além de apresentar estas músicas [do álbum] ao vivo, vamos reinterpretar músicas que consideramos clássicos da nossa editora, vamos socorrer-nos de mais alguns elementos, talvez também de algumas vozes”, adiantou DarkSunn, sem revelar muito, para “manter o véu de surpresa”.

A Monster Jinx, “como a maior parte das pequenas editoras independentes Portugal”, sobrevive “da atuação ao vivo”.

No ano passado, a Monster Jinx tinha agendadas as residências mensais “Purple Hazin”, no Musicbox e no Maus Hábitos, no Porto, e que ia começar a levar a outras cidades. Isto, “além das atuações que cada um tinha individualmente”.

Mas a pandemia da covid-19 acabou por cancelar tudo.

Sem atuações ao vivo, e visto que “a edição física em Portugal não dá propriamente dinheiro, na maior parte dos casos paga-se a ela mesma”, como consegue uma pequena editora independente sobreviver num ano em que as atuações ao vivo foram muito poucas ou nenhumas?

“Devagarinho, um dia de cada vez. Todo o pessoal que nos segue continuou a comprar discos, a comprar música no Bandcamp, a apoiar-nos da forma que podem”, respondeu DarkSunn.

Desde março do ano passado, “o possível capital a entrar foi da edição musical”.

“Sabendo que esse tipo de dinheiro que entra não é significativo, [continuar a editar música] foi a maneira de mantermos o nome a circular e, principalmente, a música a circular”, referiu.

No primeiro confinamento, há um ano, a editora criou o movimento “Crib Season”: “um artista nosso lançava por dia uma faixa, que compilávamos ao final de uma semana, com sete faixas, e depois ao final de sete semanas, com 49 faixas, e lançámos gratuitamente para a internet”.

“Ao mesmo tempo, durante essas sete semanas fizemos ‘lives’ no Instagram todos os dias – ‘live acts’ [atuações ao vivo], DJ ‘sets’ – e tentámos manter o espírito vivo dessa maneira”, recordou o produtor.

O facto de não estarem dependentes da rentabilização da editora para sobreviverem — “grande fatia de nós tem os seus trabalhos” — ajudou os elementos da Monster Jinx a “manterem-se”.

“Não olhamos para isto como um ‘hobby’, mas também não olhamos como a grande fonte de rendimento”, explicou DarkSunn, partilhando que esteve “vários meses a viver da música, um bocado uma licença sabática” da sua profissão.

“É possível fazer [viver só da música], mas nós na parte de edição da música não queremos fazê-lo, porque ao fazermos isso teríamos que ter uma preocupação muito mais comercial com o que editamos, e nós queremos editar a música que queremos, sem termos que estar amarrados ao facto de a música poder dar dinheiro ou não”, afirmou.

DarkSunn sublinha que os responsáveis pela Monster Jinx preferem viver assim, porque acreditam na música os responsáveis pela editora e os seus artistas fazem e querem “editá-la pela música que é”.

JRS // TDI

Lusa/Fim