Foi um dos grandes momentos do mercado de verão. Gareth Bale, caído em desgraça do Real Madrid, foi emprestado ao Tottenham. O avançado galês regressou ao clube que o atirou para o topo do futebol europeu, juntou-se a Kane e Son em Londres e parecia ter tudo para voltar aos melhores dias da carreira. Mas o regresso ao futuro acabou por não ser tão imediato assim.

Bale chegou lesionado, só se estreou num empate contra o West Ham já na segunda metade de outubro e só marcou pela primeira vez no início de novembro contra o Brighton. O avançado esteve de fora durante o arranque de temporada positivo da equipa de Mourinho e entrou nas contas quando o Tottenham começou a quebrar: apanhou a onda do clube e nunca conseguiu propriamente subir de rendimento, sair do banco de suplentes e encontrar um lugar no onze inicial. Os spurs foram caindo na classificação da Premier League e Bale foi caindo também na lista de prioridades de Mourinho.

Mas o ponto de viragem, pelo menos do jogador, pode estar atualmente em curso. Depois de meses de trabalho e recuperação de ritmo, intensidade e competitividade, Gareth Bale mereceu o voto de confiança de José Mourinho e foi titular no passado domingo contra o Burnley. Marcou aos 2 minutos, marcou novamente aos 55 minutos e foi uma parte fulcral da goleada — muito importante a nível anímico e emocional — do Tottenham. Na conferência de imprensa da visita desta quinta-feira ao Fulham, o treinador português apresentou uma explicação clara para o adiar do bom momento de Bale.

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“Porquê? Durante os dois últimos anos, teve o que teve no Real Madrid… Perguntem-lhes a eles. Talvez se eles responderem possam entender melhor porque é que ele demorou um tempo. Talvez ser paciente tenha sido a principal razão para que Gareth Bale tenha alcançado o nível que mostrou nas duas últimas semanas. É uma coisa pessoal. Quando um jogador tem lesões, ficam sempre cicatrizes e, muitas vezes, as cicatrizes não são apenas as cicatrizes físicas, são as cicatrizes emocionais. Um jogador que sofre lesões, até ficar livre e emocionalmente curado, leva algum tempo. Basta ter paciência e no caso dele não fizemos nada. Cuidamos dele o melhor que pudemos e faremos isso até o último dia. Ele é muito experiente, por isso a sua opinião é muito importante. Tem tido uma boa reação, boas sessões de recuperação. Ele estará envolvido. A começar no banco ou em campo, ele estará lá”, disse Mourinho, abrindo a porta a uma nova titularidade de Bale esta quinta-feira, contra o Fulham. Titularidade que ficou confirmada com o anúncio dos onzes iniciais.

O avançado galês aparecia no ataque, junto a Kane e Son, e tinha também a companhia de Dele Alli, outro jogador que tem vindo em crescendo nas últimas semanas — ambos, Bale e Alli, acabam por ser os grandes reforços de inverno para Mourinho. Hojbjerg e Ndombele eram naturalmente titulares no meio-campo, Lucas Moura e Carlos Vinícius começavam no banco e, do outro lado, Ivan Cavaleiro era titular no Fulham. O Tottenham chegou ao final da primeira parte a vencer pela margem mínima, com um golo marcado já depois de Harry Kane falhar clamorosamente uma oportunidade criada por Son na esquerda (18′). No lance do golo, Bale recuou de forma fulcral para ir buscar o jogo, colocou em Alli na faixa central e o inglês abriu na esquerda em Son; o sul-coreano devolveu e Alli desviou ao primeiro poste, com a bola a tocar ainda em Tosin antes de enganar o guarda-redes Areola (19′).

Na segunda parte, a lógica do jogo inverteu-se. O Fulham regressou melhor do intervalo e o Tottenham apanhou um susto à passagem da hora de jogo, quando Maja aproveitou um erro de Sánchez para rematar de pé esquerdo e bater Lloris (62′). O lance acabou por ser anulado pelo VAR, por mão na bola do avançado nigeriano, e ambos os treinadores reagiram com substituições a um jogo que estava totalmente diferente daquilo que tinha sido a primeira parte: Scott Parker tirou Loftus-Cheek para lançar Anguissa e Mourinho respondeu com as entradas de Sissoko e Lucas Muora para os lugares de Alli e Bale. O resultado arrastou-se ao longo da partida, apesar de o Tottenham ter abdicado totalmente de ter a bola e de tentar aumentar a vantagem durante a segunda parte, e as melhores jogada dos spurs depois do intervalo só apareceram já nos instantes finais, ambas por intermédio individual de Lamela, que entretanto tinha entrado.

Apesar de uma segunda parte pouco conseguida, o Tottenham venceu o Fulham — que não perdia há cinco jornadas –, chegou à segunda vitória consecutiva para a Premier League e aproximou-se do Liverpool, que joga ainda esta quinta-feira com o Chelsea. Para isso, muito contribuíram Dele Alli e Gareth Bale, entre a finalização e o início da construção da jogada que deu o golo, o inglês e o galês que são os dois reforços de inverno que José Mourinho recebeu nas últimas semanas.