A União Europeia (UE) condenou esta quarta-feira a “repressão violenta contínua de manifestantes pacíficos” no Myanmar (antiga Birmânia), apelando a que haja uma “responsabilização” dos envolvidos e um “regresso à democracia” no país.

“A UE condena a repressão violenta contínua de manifestantes pacíficos pelas forças militares e de segurança birmanesas, que resultou em ainda mais mortes de civis inocentes hoje”, lê-se num comunicado da porta-voz do Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE), Nabila Massrali.

Enumerando as ocorrências que constituem “violações claras do direito internacional“, e que vão das “detenções de centenas de pessoas” a tiros disparados contra “civis desarmados e trabalhadores de saúde”, a porta-voz chama ainda a atenção para a repressão dos meios de comunicação no país, onde se tem testemunhado “um número crescente de jornalistas arbitrariamente presos, detidos e acusados”.

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A perseguição e intimidação de trabalhadores dos media, que estão apenas a fazer o seu trabalho, é inaceitável”, afirma Massrali.

A porta-voz diz assim que as “tentativas de silenciamento dos media” e de “erradicação da liberdade de expressão” não irão “impedir o mundo de testemunhar as ações do Exército do Myanmar nem a coragem do povo birmanês”, acrescentando também que não “darão nenhuma legitimidade ao golpe” militar que ocorreu no país a 1 de fevereiro.

“Tem de haver responsabilização [dos envolvidos] e um regresso à democracia no Myanmar”, aponta.

As manifestações de repúdio ao golpe militar continuaram esta quarta-feira em todo o país, apesar da brutal repressão policial, que só no domingo custou a vida a 20 manifestantes, a maioria deles devido a tiros disparados pela polícia.

Forças de segurança de Myanmar usaram munições reais contra manifestantes

O número de manifestantes mortos subiu esta quarta-feira para pelo menos seis, havendo fontes que indicam até 11 vítimas mortais.

Além de munição real, as autoridades birmanesas reprimiram os protestos com gás lacrimogéneo, balas de borracha e granadas de choque. No entanto, quando a situação acalmou, os manifestantes voltaram às ruas para continuar o protesto.

Os manifestantes exigem que o exército, que governou o país com mão de ferro entre 1962 e 2011, restaure a democracia, reconheça os resultados das eleições de novembro e pedem a libertação de todos os detidos pelos militares, incluindo a líder de facto Aung San Suu Kyi.

O exército birmanês justificou a tomada do poder, a 1 de fevereiro, por uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro, onde os observadores internacionais não detetaram qualquer fraude e em que a Liga Nacional pela Democracia, partido liderado por Suu Kyi, foi o vencedor, assim como já tinha ocorrido em 2015.

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Perante o golpe militar, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, reunidos numa cimeira em 22 de fevereiro, afirmaram “estar dispostos” a adotar sanções contra as pessoas “diretamente responsáveis” pelo golpe.

Nesse sentido, convidaram a Comissão Europeia e o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, a “desenvolverem propostas apropriadas” para o efeito.