A ala de críticos internos do Bloco de Esquerda conhecida como “Convergência” acusa a direção do partido de dar um “tiro na democracia”. A razão? Uma proposta que será votada este sábado, na Mesa Nacional do partido, e que tem por objetivo reduzir para metade — de 600 para 300 — os delegados que estarão presentes na convenção do partido, nos dias 22 e 23 de maio.

O Observador confirmou que a proposta será, de facto, apresentada, com o objetivo de adaptar a situação do congresso ao contexto da pandemia. “É uma alteração que não cria qualquer distorção na representação, uma vez que reduz proporcionalmente os delegados em função dos votos que cada Moção venha a ter, salvaguardando o princípio do voto secreto, que o Bloco adotou desde a sua fundação”, esclarece ao Observador fonte ligada à moção subscrita por Catarina Martins. No entanto, um comunicado da “Convergência”, onde se integram os ex-deputados Pedro Soares e Carlos Matias, arrasa a ideia, que classifica como “um tiro na democracia, na proporcionalidade e na representatividade do principal órgão de decisão bloquista”.

O argumento dos críticos é que a democracia “não pode ser destruída a coberto da pandemia”. Por isso, propõem que o número de participantes seja mantido, lembrando que o pavilhão de Matosinhos, para onde está marcada a convenção, tem capacidade para quase quatro mil delegados. E recorrem ao exemplo do congresso do PCP, que aconteceu em novembro, em Loures: “O PCP realizou o seu congresso com mais de 600 delegados”.

Voltar a ser “radical”, largar a obsessão por “lugares” e os “objetivos pequeno-burgueses”: o que exigem os críticos internos do BE

Para estes bloquistas, que se apresentarão na convenção com uma moção crítica da direção, a redução do número de delegados “levaria a que algumas regiões se transformassem numa espécie de círculos uninominais e que algumas moções e plataformas locais quase desaparecessem”. E frisam que “as regras não se mudam durante o jogo”, uma vez que o processo de preparação da convenção já vai avançado e as moções já foram entregues, esta segunda-feira. “A quantidade altera a qualidade das coisas”, remata o comunicado. “Uma Convenção mitigada poderia servir tentativas hegemónicas internas, mas enfraqueceria a capacidade de afirmação da esquerda”.

Na direção, a garantia é que a redução de delegados será feita de forma proporcional e com o objetivo cumprir os distanciamentos necessários, assegurando que as propostas alternativas que forem entregues também serão debatidas no sábado.

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