Tudo começou com o primo e melhor amigo, que encontrou morto. A tia não resistiu a um cancro. Um amigo da família foi um dos milhares de vítimas mortais da Covid-19 nos Estados Unidos. Já este ano, um primo foi assassinado em West Oakland. E no passado mês de fevereiro, outro primo e outro amigo foram mortos durante um tiroteio. Em 18 meses, Damian Lillard perdeu seis pessoas próximas.

“Tem sido um ano e meio difícil para a minha família. As pessoas nem fazem ideia. Acho que muitas pessoas não têm em conta que nós também temos vidas”, disse o jogador dos Portland Trail Blazers, numa entrevista à The Athletic onde acabou por levantar o véu sobre uma temporada que tem sido dura a nível pessoal mas bem sucedida a nível profissional. Apesar de explicar que todas as perdas tiveram um peso, Lillard não deixou de revelar que foi a do primo e melhor amigo, que trabalhava em casa do atleta como chef pessoal, que acabou por ter mais consequências.

“Eu fiquei a olhar para o corpo dele, meu. Ele estava morto. Minutos. Eu a olhar para o corpo dele. As pessoas não têm noção do tipo de trauma que isso provoca. Do que é ter alguém tão próximo deitado e tu estás a olhar para ele. Ainda luto com isso, sabes? Ainda luto com isso. É uma batalha para mim”, disse o norte-americano de 30 anos, acrescentando que a “batalha” é particularmente dura na hora de entrar em campo. “O que importa mais na vida, sabes? Quando pesas isso, e quando pesas tudo aquilo que a tua família está a atravessar… É uma batalha, mentalmente, chegares a um lugar onde aquele jogo é a coisa mais importante naquele momento. Pensei em não jogar, porque mentalmente… Não quero dizer que não queria saber, porque queria. Mas emocionalmente estava tipo whatever. Não estou fisicamente cansado mas estou emocionalmente esgotado”, referiu Lillard.

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Ainda assim, o jogador dos Trail Blazers tem conseguido corresponder. A equipa de Portland tem atualmente um registo positivo de 21 vitórias para 14 derrotas e está no quinto lugar da Conferência Oeste, sendo que na última madrugada derrotou os Sacramento Kings. A realizar uma temporada acima da média, Damian Lillard tem nesta altura médias de 29,4 pontos e 8,8 assistências por partida, para além de um aproveitamento de 37% nos lançamentos triplos. Nos Trail Blazers desde 2012 (nunca esteve noutra equipa), foi recentemente escolhido por LeBron James para integrar o All-Star Game pela sexta vez na carreira — ainda que o processo de decisão tenha originado alguma polémica.

James escolheu Lillard para ser o primeiro suplente depois de Giannis Antetokounmpo, Stephen Curry, Nikola Jokic e Luka Doncic terem sido os eleitos para a equipa titular — este último, Doncic, teve menos votos dos jogadores e da comunicação social do que Lillard mas acabou por ficar com o lugar graças à votação dos adeptos. Polémicas à parte, a presença no All-Star Game não deixa de ser um ponto alto na temporada do base dos Trail Blazers, que terá de ser um nome a ter em conta na escolha do MVP da temporada regular da NBA e que, a nível pessoal, foi pai de gémeos no passado mês de janeiro.

“Tenho de pôr as emoções de lado e preocupar-me com o jogo e garantir que estou lá para os meus colegas, para fazer o meu trabalho, porque o meu trabalho toma conta da maior parte da minha família. É muito importante para as pessoas da minha família. Acho que entender isso é o que me ajuda a seguir em frente. Sei que o meu trabalho faz algo positivo por eles e isso significa muito para eles. E essa acaba por ser uma parte importante da nossa felicidade enquanto família, para continuarmos a seguir em frente e a manter-nos juntos”, disse Damian Lillard na entrevista. Os últimos 18 meses do jogador foram impensáveis mas Lillard está a trabalhar para que os próximos 18 sejam inacreditáveis.