O nome Silk Sonic não dirá nada a ninguém, à partida não justificaria grandes parangonas na imprensa e grande atenção dos media ou dos ouvintes, até porque projetos musicais novos não faltam — desde que a internet abriu as portas à publicação de música em formato digital e desde que apareceram softwares que permitem a miúdos fazerem discos e canções no quarto os novos artistas pululam como cogumelos, a um ritmo impossível de acompanhar.

Mas estes Silk Sonic não são dois miúdos a começar a fazer canções, a tentar iniciar uma carreira musical graças ao entusiasmo de quem os descobrir na internet — são na verdade duas estrelas da música americana, Bruno Mars e Anderson .Paak. Dois homens feitos com carreiras consolidadas, ambos com estéticas musicais que usam o groove como motor rítmico principal: Bruno Mars numa variante mais próxima da canção pop e do retro funk-pop (com uma pitada de disco e pop à Michael Jackson para embelezar), Anderson .Paak mais virado para a ligação entre a neosoul, o funk e até os grooves jazzísticos com o hip-hop e o novo R&B.

As abordagens musicais de um e de outro podem ter essas diferenças, mas também têm semelhanças — a maior das quais a vontade de fazer cada canção e de cada concerto uma festa. E agora, Bruno e Anderson, que poderia ser o nome de uma dupla de sertanejo que corresse as festas populares, tornam-se Silk Sonic e preparam-se para lançar um novo álbum em conjunto.

Se este projeto nasceu ou não também devido à pandemia da Covid-19 (de outro modo teriam tempo e vontade de parar as digressões e as carreiras a solo para se meterem nisto?), ninguém sabe. Mas que nasceu, nasceu. E esta sexta-feira já deu origem à primeira canção, a que se somou um “intro”, uma introdução musical de apenas um minuto.

Essa “intro” de um minuto, com o som de palmas a bater, o tom meio festivo meio épico, a música usada como celebração, como injeção festiva num mundo sorumbático e tristonho (e com motivos para isso), mostra logo ao que vêm Bruno Mars e Anderson .Paak, isto é Silk Sonic. E a letra não engana:

Who y’all came to see tonight?
Who gon’ get the ladies feeling something? (Who)
We gon’ lock this groove in tight (Yeah, huh, well lock it in then!)
Don’t have us lock this groove down for nothing (Get down!)

A “intro” foi a notícia inesperada do dia, porque o que estava prometido era uma canção. E o single chegou, acompanhado por um vídeo que dificilmente não será o teledisco com mais óculos escuros por metro quadrado desde que o ofício de feitura dos videoclips se iniciou. Se o disco for assim, com a sensualidade, o groove e a pinta desta “Leave the Door Open”, recheada de coros e cantoria sentida de Bruno Mars, de mel e emoção e dos piscares de olho na letra, isto promete.