Em comum o primeiro nome e uma parte do percurso. Francisco Camacho vai assumir no domingo a liderança da Juventude Popular, sucedendo oficialmente a Francisco Rodrigues dos Santos, depois da liderança interina de Francisco Mota. Os nomes podem gerar confusão, os percursos também. Francisco Camacho – tal como Rodrigues dos Santos – é formado em Direito (embora por universidades diferentes), foi presidente da JP de Lisboa (cargo que o atual presidente do CDS também ocupou) e agora vai dirigir a estrutura nacional de juventude dos centristas.

Apesar das parecenças, Francisco Camacho assegura que o percurso comum – “apesar de factual” –, “fica por aqui” e que o objetivo é “cumprir os dois anos de mandato na liderança da Juventude Popular, procurando relançar o partido”. Aos 27 anos, é candidato único à liderança da JP e os mais próximos dizem que o estilo de liderança difere do antecessor, que passou diretamente da “jota” para a liderança do partido.

A movimentação de Francisco Rodrigues dos Santos não foi imune a quem na ‘jota-pê’ teve que continuar o caminho. O líder interino, Francisco Mota, diz que foram “meses desafiantes, com uma situação quase inédita: a do presidente do partido e do presidente da ‘jota’ terem praticamente a mesma idade”, ainda assim, considera que “o espaço da Juventude Popular não foi colocado em causa” e que a estrutura continuou a ser “a voz inconformada que compete a uma juventude partidária”. Apesar deste posicionamento, entre a candidatura de Francisco Camacho, entende-se que a gestão deste mandato será seguramente diferente da de Rodrigues dos Santos, com a Juventude Popular a ter que recuperar capital dentro das gerações mais jovens.

O futuro líder da juventude centrista diz que mantém “boas, ótimas relações com Francisco Rodrigues dos Santos”, ainda assim quer, como todas as novas lideranças, imprimir uma nova identidade. Para isso poderá ajudar a transição de Francisco Mota, que manteve o apoio institucional a Rodrigues dos Santos – de quem também é amigo –, não fazendo alterações à direção da Juventude Popular escolhida pelo antigo presidente. Mas apesar das boas relações, a ‘jota’ já não é um “oásis” para o presidente do CDS. Alguns dos mais próximos e de antigos dirigentes, que transitaram da JP para os órgãos do partido, já acabaram por sair. Tiago Loureiro, antigo dirigente no primeiro mandato de Rodrigues dos Santos na ‘jota’ saiu da direção do partido na sequência da moção de confiança, o mesmo caminho que tomou Francisco Kreye, secretário-geral da Juventude Popular, que também defendia a antecipação do congresso.

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Já antes, Francisco Sapage, amigo e antigo presidente do Congresso de Francisco Rodrigues dos Santos, chegou mesmo a desfiliar-se do partido. Deste núcleo duro que transitou da “jota” para o partido, continuam fiéis o vice-presidente, Francisco Laplaine Guimarães e também o secretário-geral, Francisco Tavares.

Autárquicas como momento de união e de relançamento do partido….e da jota

Depois do “processo de reflexão interno”, com a votação de uma moção de confiança a Francisco Rodrigues dos Santos, o próximo líder da Juventude Popular entende que as autárquicas são um momento de união dentro de um partido que se pode “mobilizar em torno de um objetivo comum”. Francisco Camacho assume que o objetivo da estrutura é colocar mais jovens nas listas das candidaturas às autarquias, sejam eles militantes ou pessoas “identificadas dentro da comunidade que se enquadrem no perfil da JP e do CDS”. Em 2017, o futuro líder da JP foi cabeça-de-lista à Junta de Freguesia de Alvalade, em Lisboa e foi dos primeiros a promover a reaproximação de Manuel Monteiro ao partido – que com Rodrigues dos Santos se voltou a filiar –, numa ação de campanha com a participação do antigo presidente centrista.

No que toca à mensagem do partido e de saída, o líder interino avisa que “o CDS precisa de falar claro” mas também entende que é preciso dar tempo a Francisco Rodrigues dos Santos para “recuperar um partido numa difícil situação financeira e eleitoral”. Na moção de candidatura, Francisco Camacho diz que “não será o saudosismo” a recuperar os votos do CDS e quer por isso um partido com “uma agenda em que os portugueses entendam as respostas para o país”, procurando entrar em setores como a defesa do clima, sem “traumas do passado”, e procurando resgatar a bandeira de Portugal, “nação marítima”.

Francisco Camacho aponta por isso quatro tópicos – ou bandeiras – essenciais: “o combate ao inverno demográfico, com a promoção da natalidade; a reforma do sistema político; a sustentabilidade da Segurança Social e o mar”, enquanto porta de entrada no setor ambiental e de defesa do clima. O candidato único à liderança da Juventude Popular entende que “cada país deve focar-se nas vantagens locais que tem para contribuir para o combate às alterações climáticas”, apontando o mar como o filão em que Portugal mais pode contribuir.

Congresso 100% digital e integralmente transmitido

Para apontar estes caminhos de futuro, Francisco Camacho precisa de selar a eleição no congresso, exclusivamente online, que vai decorrer entre sábado e domingo. A reunião magna dos jovens populares chegou a estar marcada para novembro – ainda antes de todas as confusões no CDS –, mas foi adiada devido à pandemia, e pode agora ter sido acelerada pelo aproximar das autárquicas, com a nova data a não ter gerado consenso. O líder interino defendia uma solução presencial que mostrasse a vitalidade da estrutura, mas a iniciativa vai mesmo decorrer exclusivamente através das plataformas digitais. Já Francisco Camacho entende que “a abertura e a transparência” de um encontro online são uma vantagem, mas apesar de querer “potenciar o espaço mediático da Juventude Popular”, admite querer “voltar o mais brevemente possível a eventos presenciais, em que possamos mobilizar os militantes”.

O congresso da Juventude Popular arrancou este sábado de manhã e contou com intervenções do eurodeputado Nuno Melo e também da presidente da família europeia da JP, que é liderada pela eurodeputada do PSD, Lídia Pereira. Já o encerramento está apontado para as 12h de domingo e vai contar com a presença de Francisco Rodrigues dos Santos e do já presidente eleito da JP, Francisco Camacho, que vão intervir a partir do Largo do Caldas, a sede dos CDS. O congresso vai ser integralmente transmitido no Facebook da estrutura.

Artigo corrigido para clarificar que Tiago Loureiro não transitou diretamente da direção de Francisco Rodrigues dos Santos na Juventude Popular para o CDS. Tiago Loureiro foi da direção da JP apenas no primeiro mandato de Rodrigues dos Santos.