No final de maio, com a Europa a começar a sair do confinamento, o El Mundo dedicava um especial ao sucesso do desporto da Noruega, um país que não deixa as crianças competirem até aos 13 anos. E dava vários exemplos dessa afirmação, de Erling Haaland e Ada Hegerberg (futebol) a Jakob Ingebrigtsen (atletismo), passando por Sander Sagosen (andebol). Tudo parte de uma nova geração que quebrou o paradigma dos escandinavos como nação forte apenas nos desportos de inverno e mostrou ao mundo o melhor nos desportos de verão ou de pavilhão. E não, não fica por aí. Longe disso. Porque há a dupla Anders Mol e Christian Sorum no voleibol de praia, Casper Ruud no ténica, Henrik Christiansen na natação, Viktor Hovland no golfe e o inveitável Magnus Carlsen no xadrez.

Erling Haaland, o “menino-homem” que é o próximo Ibrahimovic, quer ser campeão no Leeds e se tornou a estrela do mercado de inverno

Qual é então o segredo? “Aqui os miúdos não competem. Quando falo de miúdos, refiro-se a todas as crianças que tenham 13 ou menos anos, quase adolescentes. Antes dessa idade, não há marcadores nos jogos, também não há classificações. Jogam apenas pelo gosto de jogar e cada um treina e melhora para si mesmo. Vivi isso: na maioria dos países do mundo ensina-se as crianças a ganhar. Aqui não, primeiro têm de divertir-se, aprendem a técnica e a tática no seu caminho por diversão. Para mim, o sistema norueguês é o futuro do desporto”, explicou ao jornal o sueco Matis Olsson, antiga glória do andebol que foi selecionador de Portugal e está hoje na Noruega.

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O mais novo de três irmãos campeões europeus que fez história. Ganhou os 1500 e os 5000 metros com um copo de leite morno pelo meio

Este fim de semana a Noruega voltou a ser falada pelas melhores razões. Por um lado, Jakob Ingebrigtsen não só conquistou a medalha de ouro nos 1.500 metros dos Europeus de Pista Coberta como está apurado para a final dos 3.000 metros. Por outro, Erling Haaland voltou a bater mais alguns registos com uma exibição gigante na Allianz Arena frente ao Bayern que só não teve outro impacto porque existe um avançado chamado Lewandowski.

O encontro tinha menos de 75 segundos e Haaland já tinha inaugurado o marcador, na sequência de um grande remate de pé esquerdo de fora da área sem hipóteses para Manuel Neuer após uma boa interceção em zonas mais adiantadas de Delaney. E a conta não ficou por aí: ainda antes dos dez minutos iniciais, numa jogada ofensiva a envolver todos os elementos ofensivos, Thorgan Hazard assistiu o norueguês para o desvio ao primeiro poste que fez o 2-0 (9′). O B. Dortmund estava na frente e, mais do que isso, sentia-se confortável no clássico, com e sem bola. Pelo menos até o Bayern conseguir agarrar no jogo, fazer imperar o seu jogo rápido em posse e impedir mais saídas dos visitantes em transições. Quando isso aconteceu, a resposta foi implacável e empatou a partida ainda antes do intervalo com dois golos do inevitável Lewandowski, primeiro a encostar na pequena área após iniciativa de Leroy Sané na direita com cruzamento rasteiro (26′) e depois de penálti por falta sobre Coman (44′).

No segundo tempo, o Bayern foi melhor e mais pressionante ficou a partir dos 60′, quando Haaland foi poupado para o encontro da Liga dos Campeões frente ao Sevilha depois de uma entrada mais dura no tornozelo. E, de forma quase cruel, os bávaros chegaram à vitória no final do encontro, com Goretzka a marcar o 3-2 aos 88′ e Lewandowski a aproveitar a quebra anímica do B. Dortmund para completar o hat-trick que reforçou não só a posição na lista dos melhores marcadores da Bundesliga mas também da corrida à Bota de Ouro, o único troféu individual que não ganhou em 2019/20. No entanto, é de Haaland e dos seus registos que ainda se fala.

O avançado norueguês tornou-se o primeiro de sempre a marcar dois golos nos primeiros dez minutos do clássico entre Bayern e B. Dortmund e chegou também aos 100 golos como sénior, com um número de encontros bem menor do que Ronaldo, Messi, Mbappé ou Ibrahimovic. E com um outro dado: desde o início da temporada de 2019/20, que começou no Salzburgo antes de se mudar para a equipa alemã, marcou 80 golos e fez 19 assistências apenas em 75 encontros oficiais. É por isso que, como recordava este sábado o El Mundo, Haaland fez disparar a guerra entre a Puma e a Nike para patrocinarem o avançado. E a outra guerra será sobre o próximo clube.