O ministro das Relações Exteriores brasileiro considerou esta sexta-feira que existia uma “atitude adversária, distante e fria” perante os Estados Unidos da América (EUA), agora ultrapassada, por conta do isolacionismo do Brasil há várias décadas.

Ernesto Araújo declarou, numa conversa virtual com o Conselho das Américas, uma organização norte-americana, que desde “três décadas antes do Presidente Jair Bolsonaro”, o Brasil mantinha uma “atitude adversária, distante e fria perante os Estados Unidos e outros países desenvolvidos”.

O ministro brasileiro considerou que o país foi “reestruturado” com Jair Bolsonaro, eleito em 2018, através de um “projeto de transformar o Brasil profundamente” e da aposta de ter os EUA como parceiros para a abertura da economia, modernização e privatização.

Todos que tenham estado no Brasil por umas horas saberiam que Brasil adora os EUA, adora o estilo de vida americano, o estilo de fazer negócios, há uma forte e profunda conexão entre os povos”, afirmou Ernesto Araújo.

O governante acrescentou que o Brasil quer construir a confiança com os EUA em redor de uma visão comum, uma coisa que “Bolsonaro e Trump conseguiram fazer”, referindo-se ao ex-Presidente norte-americano, com quem o Presidente brasileiro tinha uma especial cumplicidade, chegando a ser apelidado de “Trump dos trópicos”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A relação melhorada entre os dois países baseia-se num “sentido de esforços e valores compartilhados, que já existia, mas foi negado” durante muitos anos, explicou Ernesto Araújo.

Com a presidência de Barack Obama, entre 2008 e 2016, os dois países tentaram uma aproximação em relação a temas globais, “mas não foi suficiente” para um espírito de cooperação bilateral concreto, recordou. Segundo o ministro, havia um “défice de confiança” entre os dois países e para isso contribuiu a decisão do Brasil de “se isolar”, “afastar-se de grandes iniciativas de relações comerciais e evitar a ideia de comércio livre na América” desde a década de 1990. Ernesto Araújo criticou ainda o “narcossocialismo” existente na América do Sul e que incluiu o Brasil num esquema de crime organizado, que se recusava a reconhecer as ameaças à democracia.

Queremos sacudir o sistema de narcossocialismo da América Latina e trabalhar com as grandes democracias, como os EUA ou Canadá“, declarou o ministro das Relações Exteriores, assegurando: “O Brasil era parte do problema e agora estamos a tentar ser parte da solução”.

Para Ernesto Araújo, “é uma rede criminosa que mantém [Nicolás] Maduro no poder na Venezuela, por exemplo” e que mantém o terrorismo e o crime. “Um modelo que ameaça o nosso país e as nossas famílias”, resumiu. Jair Bolsonaro, capitão reformado do Exército, também reforçou o poder militar e os EUA também assumem importância para o Brasil se tornar forte em matéria de defesa e segurança.

“O poder militar foi negligenciado durante muitos anos, para tornar o Brasil não relevante em ‘hard power'”, criticou Ernesto Araújo.

O ministro reafirmou as declarações do Presidente brasileiro de que “nada mudou” com a saída de Donald Trump do poder e a tomada de posse de Joe Biden em 20 de janeiro: “Penso que estaremos junto com a administração Biden em tudo”, afirmou Ernesto Araújo.

Um dos temas que assume diferenças nas políticas de Bolsonaro e Joe Biden é o clima e a desflorestação, mas o ministro das Relações Exteriores garantiu que existe “disponibilidade para cooperação” e para investimentos no desenvolvimento sustentável na zona amazónica.

O Brasil reconhece “nuances” diferentes na relação com a nova administração dos Estados Unidos, de Joe Biden, mas os compromissos, objetivos e abertura para mais confiança e parcerias são os mesmos, garantiu Ernesto Araújo. O ministro acrescentou que há muita informação errada e desinformação sobre o ambiente brasileiro e a “conexão entre agricultura e desflorestação”, que não existe.

O Governo brasileiro pretende uma modernização da economia, com industrialização e avanço das tecnologias usadas pelos agricultores, e uma atualização regulatória para promover novos investimentos estrangeiros que estão a caminho, essencialmente dos EUA, sublinhou Araújo.