Um estudo epidemiológico feito na Coreia do Sul concluiu que os oito infetados com o SARS-CoV-2 em cinco apartamentos do mesmo edifício de Seul não tiveram “outro contacto possível” entre si se não o possibilitado pela transmissão de ar entre as várias casas, através das condutas de ar instaladas nas casas de banho. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o surto de SARS que em 2003 provocou mais de três centenas de casos e 42 mortos no Amoy Gardens, um complexo de apartamentos em Hong Kong, também terá sido disseminado por esta via.

De acordo com o espanhol El País, que analisou o percurso que o ar, bem como os vírus por ele transportados, pode transpor facilmente entre diferentes casas, esta hipótese pode ajudar a explicar alguns dos casos de transmissão de origem desconhecida, como o caso do prédio de 97 moradores em Santander que, em junho, teve de ser isolado, depois de serem confirmados 17 casos de infeção em quatro apartamentos diferentes — todos ligados através das condutas de ventilação das casas de banho, detalha o jornal. Segundo os especialistas consultados, esta via de transmissão é, ainda assim, “muito pouco frequente”, sobretudo em casas bem arejadas.

O problema, explica o jornal espanhol, coloca-se apenas nos prédios mais antigos, construídos antes da entrada em vigor (em Espanha, em 1977) da legislação que obriga a que as casas de banho de cada apartamento tenham saídas de ar independentes, que são depois canalizadas para a conduta geral dos edifícios — em vez de estarem apenas tapadas por grelhas, sem qualquer tipo de tubagens, e com ligações diretas entre casas.

Em Espanha, só 37,7% dos edifícios existentes não têm este sistema de filtragem de ar — ou sistemas ainda mais eficientes, assegurados por extratores elétricos, tornados obrigatórios por lei em 2006, que fazem com que os gases só possam circular numa direção: para fora, nunca para dentro.

É nos prédios antigos, e sobretudo em casas de banho interiores, sem janelas, que o ar (contaminado ou não) continua a poder circular livremente entre apartamentos, através de simples grelhas sem filtros. Em apenas cinco minutos, explica o El País, o ar colocado em movimento pela abertura de uma porta ou de uma janela, pelo funcionamento do exaustor da cozinha ou pela simples diferença de temperatura, pode transferir-se integralmente da casa de banho de um apartamento para a do vizinho.  Manter janelas abertas, baixar a tampa da retrete e instalar válvulas para impedir a entrada de ar através das condutas pode ajudar a reduzir os riscos, sugeriram especialistas ao jornal.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR