Duas horas de entrevista depois, tudo indica que os ecos das revelações têm ainda um longo caminho pela frente — até porque afinal ainda havia conteúdo extra para revelar. Depois do momento de domingo à noite, a CBS reservou ainda alguns clips inéditos para partilhar com os telespectadores no dia seguinte à transmissão do encontro de Harry e Meghan com Oprah Winfrey, no qual os Sussex expuseram de forma inédita os últimos três anos e meio — do noivado, no final de 2017, ao Megxit.

A estação anunciara que a apresentadora marcaria presença em direto no CBS Morning Show para comentar e relevar algumas passagens que ficaram de fora da transmissão. E afinal,o público podia contar com mais munições nesta batalha sem fim à vista.

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Desta vez, é sobre Harry que recaem as principais atenções, com o príncipe a voltar ao tema do racismo e como este motivou o seu afastamento do Reino Unido e a consumação do Megxit. Megxit esse, cujas atribulações do processo também são mencionadas. “Quando és o chefe da Firma há pessoas em teu redor que te dão conselhos. E o que também me deixou muito triste é que alguns desses conselhos têm sido maus”, explica Harry, depois de um silêncio à pergunta de Oprah: “a rainha não faz o que a rainha quer fazer?”

Apontado para o alegado peso destas orientações nas decisões da própria monarca, o príncipe diz que a intenção de Isabel II foi rejeitada pelos assessores reais quando esta tentou convidar o casal para Sandringham, cenário da famosa cimeira onde se discutiram os detalhes do seu afastamento. Harry refere mesmo ter recebido uma mensagem da soberana pedindo que a fossem visitar “mal aterrassem” mas mais tarde receberia uma mensagem da sua secretária particular à época informando que a viagem havia sido cancelada. “Não venham cá porque a rainha vai estar ocupada toda a semana”, recorda.

Uma vez conhecidos os pensamentos suicidas de Meghan Markle durante a gravidez, as conversas no seio da família sobre “quão escura” seria a pele de Archie e o desapontamento de Harry face a um pai que, simplesmente, deixou de lhe atender o telefone, não demoraram a surgir as reações de ambos os lados do Atlânticos. De Serena Williams a Piers Morgan, as vozes são ora de apoio ora demolidoras para o casal. Por sua vez, e com Buckingham ainda em silêncio, o Partido Trabalhista pede investigação às acusações de racismo feitas por Meghan na entrevista a Oprah. “Angustiantes, chocantes”, classificou Kate Green, do Labour, afirmando que não há desculpas para o racismo.

Já esta segunda-feira, e depois de Meghan não ter personalizado os comentários sobre a cor de pele de Archie, Oprah adiantou, em conversa com Gayle King, que os mesmos não foram feitos “nem pela sua avó nem pelo seu avô”, e que não chegou a saber ao certo as identidades dos envolvidos. Quando Oprah pergunta a Harry se alguém da família lhes dirigiu um pedido de desculpa uma vez conhecidos os motivos que os levaram a distanciar-se, o príncipe diz que “infelizmente não”, admitindo que mesmo que chegasse apenas no futuro, esse reconhecimento faria uma “enorme diferença”: “o sentimento é de que esta foi a nossa decisão, estas são as nossas consequências”. Harry descreve ainda como “deixou o sistema”, ao contrário do irmão, que “não o pode fazer”. Quereria William semelhante destino?, pergunta a apresentadora. “Não posso falar por ele”.

A bola de neve das redes, a falta de proteção contra os tabloides, e o clã Markle

Sobre eventuais comparações com um potencial “ambiente tóxico” vivido pelo pai, então casado com Diana, é Meghan quem nota as diferenças de cenários. Pela questão da raça, aponta, mas também pelo impacto massivo das “redes sociais”, e ainda pelo facto de “ser americana”, o que terá dado uma dimensão ainda maior ao fenómeno.

Ainda com a bola do lado de Markle, a duquesa insiste que não é possível comparar o “bullying” que sofreu com os ataques comuns à generalidade dos membros da família real. “Diziam que Kate era a ‘Waity Katie’ (à espera para casar com William). Ainda que possa imaginar que foi muito difícil e eu imagino… isso não é o mesmo se um membro de sua família confortavelmente disser que todos nós temos que lidar com coisas que são rudes. Ser rude e ser racista não é a mesma coisa”, desabafa. “Não tivemos assessores de comunicação que nos protegessem”, acrescenta.

Sobre a sua família mais próxima, tópico que escapara às duas horas transmitidas, outro dos clips percorre a polémica ligação com um pai “incapaz de a proteger”. Os tabloides tentaram localizá-lo “durante mais de um ano”, lembra Meghan, assumindo que apesar do assédio feroz da imprensa Thomas Markle “tem responsabilidade” em boa parte do que acabou exposto nas páginas dos jornais em momentos mais quentes, contra o papel discreto da sua mãe que se “manteve quatro anos dignamente em silêncio”.

Viajando pela não menos controversa relação com a irmã Samantha Markle, que recentemente lançou uma autobiografia, a duquesa ironiza. “É muito difícil contarem tudo quando não me conhecem”. A mulher de Harry diz que nem considera traição dada a ausência de relação com Samantha. “Cresci como filha única. Adoraria ter tido irmãos, mas a última vez que a vi foi há 18 ou 19 anos. Ela mudou o apelido para Markle quando comecei a namorar com o Harry. Penso que isso diz tudo”.