Há cinquenta anos, ainda a três de distância de “Grândola, Vila Morena” soar como senha revolucionária para o 25 de abril de 1974, a música portuguesa vivia um ano marcante (hoje é mais fácil percebê-lo). E não seria em Lisboa que o epicentro dessa agitação musical se sentiria, mas em Paris e Herouville.

Em estúdio, a partir da capital francesa, Sérgio Godinho alinhavava aquilo que viria a ser o seu primeiro álbum de estúdio e de canções originais — Os Sobreviventes. Na mesma cidade, longe do Estado Novo, José Mário Branco estreava-se a solo nesse ano, com um disco lançado em novembro: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. E José Afonso, que influenciara tremendamente Sérgio Godinho e José Mário Branco, lançava no período de Natal o disco Cantigas do Maio, que nem de propósito creditava “Zé Mário” como produtor.

No passado sábado, os três álbuns e a agitação musical de 1971 — a agitação que a partir do exílio Sérgio Godinho, José Mário Branco e José Afonso revelariam, revolvendo as águas da música portuguesa — foram homenageados na final da edição de 2021 do Festival da Canção. E esta segunda-feira a RTP divulgou os vídeos da homenagem. Os vídeos já tinham começado a circular nas redes sociais logo no sábado à noite mas ilegalmente, dado que os direitos da transmissão e de imagem pertenciam à RTP.

Em palco estiveram, ao longo do grosso das homenagens, um tridente inesperado composto pela banda Clã — que tem Manuela Azevedo como vocalista —, a cantora e anterior vencedora do festival Cláudia Pascoal (ganhou com “O Jardim”, tema da autoria de Isaura que Cláudia Pascoal interpretou) e o compositor, músico, cantor e antigo concorrente do concurso de canções da RTP, Filipe Sambado.

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A banda portuguesa e os dois anteriores participantes do Festival da Canção interpretaram temas como “Coro da Primavera” e “Maio Maduro Maio” (do disco Cantigas do Maio, de José Afonso), “Que Força É Essa” (do disco Os Sobreviventes, de Sérgio Godinho) e “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades” (do álbum homónimo de José Mário Branco). A estas três somou-se ainda uma versão de “O Charlatão”, que quer Sérgio Godinho quer José Mário Branco incluíram nos seus álbuns de estreia, feitos em 1971.

Sérgio Godinho também acabou por ir ao palco dos estúdios da RTP, não só para apresentar o seu novo tema “O Novo Normal” mas também para se juntar a Clã, Cláudia Pascoal e Filipe Sambado numa versão de “Maré Alta” — que também figurou no primeiro álbum que Godinho gravou em 1971, em Paris.

Pode ver os vídeos dos tributos a Sérgio Godinho, José Mário Branco e José Afonso de seguida: