O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou esta segunda-feira a médica Miroslava Gonçalves e a enfermeira Marta Lima Basto, no Dia Internacional da Mulher, e pediu um reforço permanente do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

De acordo com uma nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado atribui a ambas o título de comendadora da Ordem do Mérito, numa cerimónia restrita no Palácio de Belém, em Lisboa.

Na sua intervenção, o chefe de Estado afirmou que, “neste ano tragicamente marcado pela pandemia de Covid-19”, quis assinalar o Dia Internacional da Mulher com a condecoração destas duas profissionais de saúde e professoras, que se distinguiram “em tempos e sociedades diferentes”.

Marta Lima Basto, que esteve representada nesta cerimónia pela sua sobrinha, iniciou a carreira na década de 1960 e foi a primeira enfermeira portuguesa a obter o grau de doutor. Miroslava Gonçalves é a atual diretora do serviço de cirurgia pediátrica do Centro Hospitalar Lisboa Norte.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Marcelo Rebelo de Sousa considerou que as duas “demonstraram, pela sua capacidade de liderança, pelo seu caráter, convicções, pela sua inteligência, profissionalismo e sentido de serviço público, a grandeza, a resiliência e o compromisso que milhares e milhares e milhares de mulheres colocam no serviço dos outros”.

“Em vosso nome e de todas as mulheres, sobretudo neste tempo de crise, insisto na necessidade e premência do reforço permanente do Serviço Nacional de Saúde (SNS), naquilo que significa de política pública essencial para o bem de Portugal e dos portugueses”, acrescentou, perante o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e, em representação do Governo, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem.

O Presidente da República referiu que o SNS “é uma das grandes conquistas do 25 de Abril, é um pilar do Estado de direito democrático e é uma peça-chave para o desenvolvimento humano e para a justiça social” e que teve um ano “de uma exigência sem limites”, devido à pandemia de Covid-19.

Marcelo Rebelo de Sousa realçou que Marta Lima Basto começou a sua carreira num tempo de “menorização do papel da mulher”, que era “obrigada à autorização do pai ou do marido para poder sair do estrangeiro” e quando “o curso de enfermagem não conferia grau académico”.

“Partiu para a Dinamarca, primeiro, e para os Estados Unidos da América, depois, com bolsas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi a primeira enfermeira portuguesa a obter o grau de doutor, dedicando-se à investigação, colaborando nos cursos de doutoramento em enfermagem, acompanhando de forma muito próxima os doutorandos”, assinalou.

O chefe de Estado explicou que Marta Lima Basto não pôde comparecer nesta cerimónia devido ao seu estado de saúde, e observou: “A capacidade e abnegação dos profissionais de saúde é frequentemente levada ao limite. Ela foi especialmente testada neste período difícil que atravessámos, tendo os portugueses reconhecido a heroicidade desses profissionais”.

“Foi e continua a ser referência para todos os profissionais de enfermagem Foi uma interveniente decisiva na evolução, desenvolvimento e qualificação da profissão. Lutou, tantas vezes sozinha, e viu reconhecida, em 1998, a Ordem dos Enfermeiros”, enalteceu, prestando homenagem às “gerações de mulheres profissionais em tempos muito, muito difíceis, antes da democracia, em que se assinalou a excelência e a liderança da professora Marta Lima Basto”.

Em contraste, Miroslava Gonçalves, diretora do serviço de cirurgia pediátrica do Centro Hospitalar Lisboa Norte e professora universitária, “já faz parte de uma geração de mulheres que se formaram após a revisão do Código Civil em 1977, que estabeleceu a igualdade entre a mulher e o homem na família”, salientou.

Segundo o Presidente da República, persistem, no entanto, “obstáculos a ultrapassar todos os dias para garantir essa igualdade no trabalho, na vida diária, na conciliação entre o trabalho, a família e a sociedade”.

Marcelo Rebelo de Sousa disse que Miroslava Gonçalves “representa também o êxito da diáspora portuguesa, provindo de uma família madeirense que viveu na Venezuela”. Nasceu em Caracas, fez o ensino secundário no Funchal e estudou medicina em Coimbra.

O chefe de Estado descreveu-a como “uma médica de exceção” e elogiou-a pela “liderança, rigor, exigência, empenho, sensibilidade”.