A União Europeia (UE) instou esta terça-feira a Junta Militar do Myanmar a “parar imediatamente todas as violências”, na primeira conversa telefónica entre responsáveis europeus e birmaneses após o golpe militar, anunciou o Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE).

Num resumo de uma conversa telefónica que teve lugar esta terça-feira entre o diretor-geral do Estado-Maior da União Europeia (UEMS, na sigla em inglês), vice-almirante Hervé Bléjean, e o vice-comandante das Forças Armadas birmanesas, Soe Win, o SEAE refere que o responsável europeu sublinhou ao general birmanês que “o papel de qualquer militar deve ser o de proteger a população”.

“O vice-almirante Bléjean instou as autoridades militares a pararem imediatamente com todas as violências e a exercerem contenção máxima na maneira como lidam com as manifestações, para evitar baixas adicionais e respeitar a lei internacional”, lê-se no resumo da conversa entre os dois responsáveis.

Hervé Bléjean instou também a Junta Militar a libertar a “liderança democraticamente eleita do país”, incluindo a conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi, o Presidente eleito, U Win Myint, e todos “os outros presos políticos”, de maneira a permitir que se inicie um “diálogo político com todos os parceiros sociais relevantes”.

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O vice-almirante Bléjean insistiu na importância de restaurar a estabilidade e a democracia com um Governo civil legítimo no Myanmar, inclusive para evitar uma deterioração maior da, já de si, difícil situação socioeconómica do Myanmar”, aponta o SEAE.

Segundo o SEAE, o vice-almirante europeu terá ainda “enfatizado” a “importância” de a Junta Militar birmanesa convidar a enviada da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Myanmar, Schraner Burgener, a visitar o país, de maneira a permitir que “consulte todas as partes interessadas e facilite o diálogo”.

A violenta repressão sobre os manifestantes que protestam contra o golpe de Estado na Birmânia, ocorrido a 01 de fevereiro, já causou mais de 50 mortos, todos abatidos pelas forças militares e policiais.

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Desde o golpe de Estado, os militares detiveram cerca de 1.800 pessoas, sendo que mais de 310 foram, entretanto, libertadas, de acordo com a Associação de Assistência a Presos Políticos.

Os manifestantes exigem que o exército, que governou o país com mão de ferro entre 1962 e 2011, restaure a democracia, reconheça os resultados das eleições de novembro e pedem a libertação de todos os detidos pelos militares, incluindo a líder de facto Aung San Suu Kyi.

O exército birmanês justificou a tomada do poder, a 01 de fevereiro, por uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro, em que os observadores internacionais não detetaram qualquer fraude e em que a Liga Nacional pela Democracia, partido liderado por Suu Kyi, foi o vencedor, assim como já tinha ocorrido em 2015.

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Dias depois do levante militar, durante o qual parte do Governo eleito de Suu Kyi foi preso, a junta militar cortou o acesso a redes sociais como Facebook e Twitter para impedir que os cidadãos organizassem e compartilhassem vídeos, mas muitos contornam o bloqueio por meio de VPN.