Depois dos apelos dos sindicatos, a TAP vai dar mais 10 dias aos trabalhadores, até 24 de março, para aderirem às medidas voluntárias de redução de custos laborais (como as reformas antecipadas, pré-reformas e licenças sem vencimento). Até ao momento, já foram feitos “cerca de 500 pedidos”, adiantou o presidente executivo interino da TAP, sem especificar as modalidades escolhidas.

A companhia aérea tinha inicialmente prevista a saída de 2.000 trabalhadores, mas com os acordos de emergência esse valor passou para 800. Em entrevista ao programa “Tudo é Economia”, da RTP3, Ramiro Sequeira explicou que o acordo com os sindicatos “assenta em saídas voluntárias” e a adesão “está a ser considerável”. Os 500 pedidos já feitos estão, porém, ainda aquém das saídas planeadas pela TAP, mas um despedimento coletivo “é a última das últimas opções”. “Há-de haver sempre diálogo para que, a ter de haver saídas, seja através de dialogo e por mútuo acordo”, disse.

Plano prevê TAP sem dinheiro em caixa já em março, se não receber novo apoio do Estado

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ramiro Sequeira adiantou ainda que a operação da companhia aérea está, neste momento, “praticamente parada”, em valores semelhantes ao início da pandemia. Em fevereiro, só operou 7% dos voos face ao mesmo mês do ano passado, e em março esse valor passou para 10%. O primeiro trimestre foi “pior do que estávamos à espera”, mas a TAP não dá “o ano como perdido”. “Esperamos retomar no segundo trimestre”, mas vai depender “das restrições de cada país”.

“Neste momento”, TAP “prevê receber o que está previsto”

Ramiro Sequeira garante que, neste momento, “a TAP prevê receber o que está previsto, é o valor com que estamos a trabalhar” (o Orçamento do Estado contempla uma garantia pública de 500 milhões de euros). Questionado sobre quanto é que a TAP espera receber do Estado em 2021, respondeu: “É um exercício que ainda está a ser debatido, ainda estamos a fechar o Orçamento para 2021”. Se vai ser necessário mais do que os 1.200 milhões injetados pelo Estado no ano passado? “Estamos a trabalhar em algumas alternativas. O OE contemplou uma garantia de 500 milhões, estamos a ver algumas alternativas tanto no mercado ou através de alguns apoios que apareceram na Europa para a aviação”, referiu.

O CEO da TAP garantia que a companhia aérea tem dinheiro para pagar os salários de março e que, depois de garantidos os 1,2 mil milhões, em 2020, de empréstimos do Estado no âmbito do plano de reestruturação, “não ficou parada”. “Não ficou à espera desse dinheiro. A TAP aplicou um plano de contenção de custos muito relevante”, referiu o CEO, que assumiu funções interinamente, em setembro. Ramiro Sequeira diz que “desde o primeiro minuto” a companhia aérea negociou com os proprietários e fabricantes dos aviões e conseguiu uma “redução de custos de cerca de 1,4 mil milhões de euros” até 2025. Já com os cerca de 1.000 fornecedores tem projetadas poupanças anuais de entre 200 milhões a 225 milhões de euros.

Ramiro Sequeira recusou, porém, responder a várias perguntas: por exemplo, não revelou os prejuízos de 2020 — aguarda que sejam publicados, em finais de março ou abril — nem confirmou se o alemão Albrecht Binderberger irá substituí-lo no cargo que ocupa interinamente. Sobre o acordo com a acionista da Grounforce, que falhou porque as ações da Pasogal estão penhoradas (logo, não podem ser entregues como garantia, como pede a TAP), recusou comentar. “Todas as partes estão a fazer o possível para que a situação seja desbloqueada e que os trabalhadores possam ver os seus salários em dia”.

Acordo com Groundforce falha porque acionista maioritário tem as ações penhoradas

Ramiro Sequeira também recusou dizer quanto é a TAP já injetou na Groundforce em pagamentos adiantados por serviços ainda por prestar. “Preferia que essa conta ficasse mais reservada entre as duas empresas”, disse o CEO da TAP, que começou a entrevista com um agradecimento aos contribuintes portugueses pelo “esforço” que estão a fazer para manter viva a companhia aérea.

Ramiro Sequeira reconheceu que o cenário em cima da mesa para a Groundforce ainda não é o de falência, mas remeteu mais pormenores sobre o avanço nas negociações para os acionistas. Sobre a penhora que existe sobre as ações da Groundforce detidas pela empresa de Alfredo Casimiro (a Pasogal), o CEO da TAP diz que sabe quem é o detentor da mesma – o Expresso noticiou que será o Montepio – mas também se escusou a revelar.