Tem-se tornado uma constante nos últimos anos. Graças à crescente explosão e exportação do futebol português, entre jogadores e treinadores que saem da Primeira Liga para alguns dos melhores clubes da Europa, os representantes portugueses nas competições europeias são agora muitos mais do que os que se apuram através da classificação interna. Às equipas nacionais, acrescentam-se os jogadores que atuam em Inglaterra, França, Alemanha, Itália e por aí adiante e os treinadores que orientam clubes ingleses, italianos, gregos, ucranianos e por aí adiante.

E este fator, por motivos óbvios, torna-se ainda mais relevante a partir do momento em que já não existem equipas portuguesas em competição. Um cenário que se verifica, nesta altura, na Liga Europa: depois das eliminações do Benfica e do Sp. Braga nos 16 avos de final, resta olhar para Bruno Fernandes no Manchester United, para Dalot e Leão no AC Milan, para Mourinho no Tottenham, para Pedro Martins e companhia no Olympiacos, para Domingos Duarte, Domingos Quina e Rui Silva no Granada e para Cédric no Arsenal. E claro, para Paulo Fonseca e Luís Castro, os timoneiros da Roma e do Shakhtar Donetsk, que esta quinta-feira se defrontavam na capital italiana na primeira mão dos oitavos de final.

Para Paulo Fonseca, que parece estar sempre na corda bamba em Itália, a partida tinha ainda outra dimensão adicional: era o reencontro com o Shakhtar que orientou durante três épocas, de 2016 a 2019, e onde conquistou três campeonatos ucranianos, três Taças da Ucrânia e uma Supertaça. “Vai ser um jogo complicado, contra uma equipa que venceu o Real Madrid por duas vezes na Liga dos Campeões e empatou com o Inter Milão. Conheço-os muito bem, defendem de forma eficaz e estão entre as melhores equipas da Europa em termos de contra-ataque. Vamos ter de ser inteligentes, até porque eles têm um treinador muito bom. É verdade que os jogadores são quase os meus, mas existem diferenças, até porque o Luís Castro tem as suas ideias. Agora, se desse para escolher, eu não queria defrontar as minhas ex-equipas”, disse o técnico da Roma, que enfrentava o seu próprio sucessor no Shakhtar, num duelo de antigos treinadores do FC Porto.

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Um duelo português que, graças à equipa de arbitragem, era ainda mais nacional: Artur Soares Dias era o árbitro da partida, Rui Licínio e Paulo Soares eram os árbitros assistentes, Tiago Martins era o quarto árbitro e a dupla João Pinheiro e Luís Godinho era responsável pelo VAR. Do lado dos italianos, que eliminaram o Sp. Braga, Paulo Fonseca não podia contar com Veretout, que só deve regressar daqui a quatro semanas, e lançava Pellegrini, Pedro e Mkhitaryan no ataque, com Džeko a começar no banco — o avançado bósnio chegou a estar em dúvida, assim como Ibañez, mas ambos estavam na ficha de jogo. Do lado dos ucranianos, que afastaram o Maccabi Telavive, Luís Castro contava com Taison, Tetê, Marlos e Júnior Moraes na fase mais adiantada da equipa, o quarteto nascido no Brasil (os dois últimos já são naturalizados ucranianos) que dá uma dimensão superior ao ataque do Shakhtar.

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O cumprimento entre os dois treinadores portugueses antes do apito inicial

Numa primeira parte bem disputada, a Roma acabou por ser a primeira equipa a criar perigo, com um desvio de Cristante ao primeiro poste, na sequência de um canto, que obrigou Trubin a uma defesa muito apertada (6′). O capitão Pellegrini atirou ao lado depois de lançado com um passe longo (11′), apesar de o lance ter sido anulado por fora de jogo, e era notório que os italianos apostavam principalmente na profundidade e no futebol mais direto, à procura de desmarcações e do espaço nas costas da defesa adversária. Do outro lado, o Shakhtar procurava ter bola e começar a construir a partir de trás, recorrendo sempre à visão acima da média do jovem guarda-redes Trubin, mas não estava a conseguir ligar os setores e esbarrava quase sempre na organização defensiva da Roma.

A equipa de Paulo Fonseca acabou por chegar à vantagem no primeiro lance em que conseguiu desmontar a defesa ucraniana. Na sequência de um lançamento de linha lateral ainda no meio-campo defensivo, Pedro combinou com Mkhitaryan e assistiu Pellegrini; o italiano apareceu num movimento diagonal e desviou à saída do guarda-redes (23′). Até ao intervalo, a Roma beneficiou do conforto do resultado para ter mais bola e pausar o jogo e Fonseca acabou por ser forçado a fazer a primeira substituição, devido a uma lesão aparentemente muscular de Mkhitaryan, que saiu para deixar entrar Borja Mayoral. Kumbulla ainda ficou perto de aumentar a vantagem dos italianos, com um desvio ao lado ao segundo poste na sequência de mais um canto na esquerda (35′), mas a partida chegou mesmo ao final da primeira parte com a vantagem mínima dos rossoneri.

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O Shakhtar voltou para a segunda parte com maior dinâmica e intensidade e Tetê acabou por obrigar Pau López a uma defesa apertada logo nos primeiros instantes, com um remate de fora de área (47′), aparecendo em zonas centrais que não povoou até ao intervalo. Paulo Fonseca procurou agitar a equipa ao trocar Pedro por El Shaarawy e a verdade é que o italiano — que voltou à Roma em janeiro depois de uma passagem pelos chineses do Shanghai Shenhua — não precisou de mais do que dez minutos para aumentar a vantagem. Num lance letal de contra-ataque, o avançado de 28 anos pegou na bola na zona do meio-campo, correu à frente da defesa ucraniana até à grande área e picou a bola por cima do guarda-redes, num lance de enorme classe (73′).

Luís Castro reagiu ao trocar Júnior Moraes por Dentinho mas a Roma, escassos minutos depois, acabou por sentenciar o resultado. Canto batido na esquerda, desvio ao primeiro poste e Gianluca Mancini, já na pequena área, cabeceou para fazer o terceiro dos italianos (77′). A Roma ainda fez três substituições para refrescar a equipa e não sofrer golos, o Shakhtar ainda colocou em campo Sudakov, Solomon, Konoplyanka e Marcos Antônio mas o resultado não voltou a alterar-se. Paulo Fonseca venceu a antiga equipa e pôs pé e meio nos quartos de final da Liga Europa; Luís Castro caiu com estrondo no Olímpico de Roma e está praticamente fora das competições europeias. E foi Lorenzo Pellegrini, o capitão escolhido por Fonseca para envergar a braçadeira depois do desentendimento com Džeko, que deu o pontapé de saída para uma vitória que não deixa de ser um balão de oxigénio para o treinador português.

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