O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, condenou esta quinta-feira a “força excessiva” da polícia para dispersar na quarta-feira um protesto de estudantes da Universidade Wits, que resultou num morto, e que se alastra agora a vários pontos do país.

Mthokozisi Ntumba era um espetador inocente e, diria mesmo, os estudantes, por mais que protestassem, e como vi nas televisões, não justificava o tipo de resistência e força da nossa polícia”, declarou Cyril Ramaphosa, numa intervenção hoje na Assembleia Nacional de Líderes Tradicionais.

O funcionário público sul-africano, de 35 anos, foi baleado, na quarta-feira, alegadamente por agentes da polícia quando as autoridades de segurança dispararam balas de borracha para fazer dispersar dezenas de estudantes universitários que se manifestavam no centro da capital sul-africana, segundo a imprensa.

A polícia sul-africana (SAPS, na sigla em inglês), confirmou o incidente, salientando que está a investigar as circunstâncias em que ocorreu o alegado homicídio. Até ao momento, não foram efetuadas detenções no seio da polícia, segundo um porta-voz da instituição sul-africana. As autoridades policiais não confirmaram se a vítima foi alvejada com balas de borracha ou se por munição real.

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Alguns académicos da Wits apresentaram uma queixa formal de brutalidade policial no comando central da polícia em Joanesburgo, em solidariedade para com os estudantes universitários, noticiou a rádio local EWN. Esta quinta-feira, os estudantes afetos ao partido de oposição Economic Freedom Front (EFF, na sigla em inglês), de esquerda radical, vandalizaram estabelecimentos comerciais em Joanesburgo.

Além do EFF, integram as manifestações de protesto estudantil em curso que se alargaram a outras instituições académicas do país, também membros do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), o partido no poder. A transmissão local em direto dos protestos estudantis desta quinta-feira pelas estações de televisão sul-africanas está a ser afetada por ‘apagões’ impostos pela estatal elétrica Eskom, nomeadamente em Joanesburgo.

Na província do Estado Livre, interior do país, a polícia deteve cerca de 23 estudantes por violência pública na Universidade do Free State (UFS, na sigla em inglês), em Bloemfontein, segundo o canal público SABC. Em Pretória, sede da presidência sul-africana, um grupo de alunos da Universidade de Pretória concederam ao ministro do Ensino Superior, Blade Nzimande, até segunda-feira “para garantir registo de todos os alunos do primeiro ano“, adiantou.

Em Joanesburgo, os estudantes protestam contra a alegada “exclusão financeira” pela instituição académica, exigindo que aqueles que devem à universidade 150.000 rands (8.274 euros) em dívidas históricas continuem a receber assistência financeira do Estado e sejam autorizados a registarem-se gratuitamente para o novo ano letivo.

O reitor da universidade, Zeblon Vilakazi disse, em conferência de imprensa, que 95% dos estudantes da Wits já se registaram para o novo ano académico de 2021, sublinhando que cerca de 8 mil estudantes têm propinas em atraso nos últimos sete anos, incluindo “alguns que desistiram e outros que foram excluídos academicamente por reprovar várias vezes e, como resultado, perderam as suas bolsas de estudo”.

Vilakazi afirmou que a dívida acumulada em propinas pendentes nos últimos sete anos ascende a cerca de mil milhões de rands (55,1 milhões de euros), ou seja, quase o dobro do valor em 2017, referiu. O reitor acrescentou que “a dívida estudantil é uma crise nacional que a Wits não consegue resolver sozinha”.

O Estado e outros atores sociais têm um papel fundamental a desempenhar na resolução desta crise. Precisamos de um debate nacional urgente sobre esta crise e os nossos alunos precisam de soluções definitivas de longo prazo para financiar o ensino superior”, salientou.