O presidente executivo da NOS, Miguel Almeida, considerou, em declarações à Lusa, que a economia portuguesa “ainda vai piorar antes de recuperar” e que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) deveria ter tido medidas relativas ao 5G.

Sobre a economia, a perspetiva “pessoal” é de que “ainda vai piorar muito antes de recuperar”, afirmou o presidente executivo da NOS. “Acho que vivemos numa ilusão não sustentável e portanto os impactos da economia ainda se vão fazer sentir, infelizmente“, prosseguiu, esperando que tal seja de “forma comedida”. E rematou: “Não sei se temos condições para ser otimistas nessa matéria”.

Questionado sobre as perspetivas da retoma, o gestor disse que do ponto de vista da operadora de telecomunicações, o objetivo é “começar a fazer” os projetos de quinta geração (5G).

Estamos entusiasmados e com expectativas de avançar com estes investimentos no 5G, começar a fazer”, afirmou Miguel Almeida.

O leilão principal para a atribuição das licenças atingiu na quarta-feira o seu 40.º dia.  Sobre o PRR, Miguel Almeida adiantou que teve o cuidado de consultar o plano e “não há nada, absolutamente nada, previsto quer seja a cobertura das redes móveis, quer seja a cobertura de redes fixas“, o que considerou uma “inconsistência” do discurso político.

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Questionado sobre se o PRR deveria ter incluído alguma medida sobre o 5G, já que é uma tecnologia com impacto transversal em toda a economia, Miguel Almeida disse que “sim”.

O presidente da NOS sublinhou que as comunicações eletrónicas “demonstraram ser muito mais do que alguns imaginavam” durante a pandemia, apontando que “o país, e também o mundo, não parou graças às telecomunicações”, tal como a atividade económica e até a “atividade política”.

Tudo continuou “a funcionar graças às telecomunicações, mas mais do que isso”, em relação à recuperação económica, “esta é uma oportunidade única para o país abraçar a transição digital, a economia do futuro“, salientou Miguel Almeida.

Tal exige “uma grande transformação das empresas e, para isso, o 5G e o setor das comunicações são críticos e é por isso, mais uma vez, que é lamentável que seja precisamente neste contexto único, em que em toda a Europa está previsto investimentos desses fundos [PRR]” no setor das comunicações eletrónicas, “a começar por Espanha até à Alemanha” e “Portugal é o único que não tem”, apontou.

Miguel Almeida, que tece duras críticas ao regulador Anacom devido ao seu “ambiente hostil” às empresas do setor, destaca que naqueles países “existe um ambiente regulatório favorável ao investimento”. E este ambiente existe porque “os políticos e os responsáveis desses países percebem a importância de incentivar esse investimento e a importância para a economia”, referiu.

No entanto, “em Portugal vemos o oposto: no momento mais crítico, em que o país mais precisa, em que precisa de uma grande aposta na transição digital, vemos alguém a destruir o setor [numa alusão ao regulador] perante a passividade do resto da sociedade”, acusou. Ainda sobre o PRR, Miguel Almeida reconheceu que há muitos setores da economia e áreas do Estado a reclamar dinheiro e investimento.

Acho que para o setor das telecomunicações, a iniciativa privada seria capaz de dar resposta às necessidades do país, não fora ela ser boicotada pelo próprio Estado na figura do regulador”, criticou.

E os danos disso “já são irreversíveis“, considerou, pelo que “a única alternativa, uma vez que não foram criadas as condições para um investimento privado”, ou seja, “foram boicotadas”, então “terá de ser, infelizmente mais uma vez, o Estado a assumir esse papel”.

Questionado se estes danos, Miguel Almeida afirmou: “Temo que seja sem retorno, exceto se as nossas reclamações [processos colocados por vários operadores] forem atendidas a tempo”. Mas em Portugal “isso raramente acontece”, concluiu.

O lucro da NOS caiu 35,9% no ano passado, face a igual período de 2019, para 92 milhões de euros, sendo que neste período o investimento total do grupo, excluindo os contratos de ‘leasing’, aumentou 2,8% e atingiu 384,9 milhões de euros.