O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, anunciou esta sexta-feira no parlamento de Atenas um conjunto de medidas para reduzir a violência policial, após uma série de incidentes registados nos últimos dias.

Mitsotakis assinalou que as medidas específicas serão detalhadas em breve mas adiantou estar decidido que todos os agentes policiais vão passar a transportar uma câmara no uniforme, e não apenas um polícia por cada pelotão como sucede até agora.

O primeiro-ministro pediu o apoio político da oposição para esta iniciativa, apesar de considerar que a Autoridade de Proteção de Dados não colocará obstáculos a esta medida. Para mais, anunciou a cooperação com as polícias de França e Reino Unido para melhorar as avaliações psicotécnicas dos candidatos a agentes da polícia.

Outra medida consistirá na criação de uma direção especial no gabinete do Defensor Público para investigar as denúncias de violência policial.

O primeiro-ministro admitiu que a sociedade está cansada de um ano de restrições e de confinamentos sucessivos, e acusou Alexis Tsipras, líder do Syriza (a principal força da oposição) de contribuir para a propagação da pandemia, pelo seu apoio à organização de manifestações “que são uma fonte de aumento dos contágios em massa”.

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Mitsotakis condenou a atuação da polícia no passado domingo no subúrbio ateniense de Nea Smyrni, que desencadeou amplos protestos contra a violência policial.

Dez polícias gregos feridos em protesto contra violência policial em Atenas

Afirmou ainda que o caso será investigado e que o polícia em questão foi suspenso das suas funções.

O líder conservador pediu “perdão” a todas as vítimas, não apenas durante o seu Governo, mas também por ações no passado, apesar de sublinhar que a violência policial é um problema geral e não apenas grego.

Na sua intervenção, Tsipras acusou Mitsotakis de se estar a aproveitar das restrições impostas pela pandemia para restringir os direitos dos cidadãos.

Covid-19. Alexis Tsipras acusa primeiro-ministro grego de menosprezar medidas de confinamento

A escalada de violência policial “é claramente a sua prioridade política, a prioridade da polarização e da divisão”, frisou o líder do Syriza, para afirmar que os incidentes não são isolados, numa referência ao ataque violento no subúrbio de Nea Smyrni no passado fim de semana, quando vários polícias agrediram com bastões diversas pessoas que passeavam num parque.

Uma manifestação de protesto que decorreu na terça-feira culminou numa batalha campal com um balanço de 11 polícias feridos, um com gravidade, e dezenas de detenções. Tsipras citou como exemplo a nova lei, que estabelece patrulhas policiais permanentes nas universidades, uma situação que não ocorria desde o fim da Ditadura dos Coronéis, em 1974.

“E, por isso, acuso-o de preparar conscientemente um Estado policial”, disse.

Para além dos confrontos entre manifestantes e a polícia, tem-se registado nos últimos dias um aumento de atos violentos.

Na noite de quinta-feira, desconhecidos incendiaram várias agências bancárias e automóveis privados de agentes da polícia em diversos bairros da capital.