Nuno Xavier, o diretor do Programa Nacional de Saúde Mental da Direção-Geral da Saúde, garante que os 85 milhões do Plano de Recuperação e Resiliência (PPR) “vão ser a oportunidade de ouro” para uma “brutal” reforma na saúde mental. A aposta no tratamento ao domicílio, a construção de unidades de internamento em centros hospitalares gerais e a transferência de utentes nos hospitais psiquiátricos para residências são algumas das prioridades. Mas para que sejam concretizadas é necessário que haja “apoio político” e uma “coordenação a sério”.

Em entrevista ao Público, a “primeira coisa” que Nuno Xavier aponta como sendo “necessária” alterar passa por mudar o “paradigma consulta-internamento dos últimos 30 anos” que a saúde mental tem vindo a apresentar em Portugal. Isto significa que, em vez de uma “resposta generalista”, devem ser empreendidos “programas de tratamento assertivo na comunidade” com “visitação domiciliária”. Para isso, vai ser necessário “criar equipas comunitárias multidisciplinares”, que passam a “funcionar fora dos hospitais, na comunidade, em articulação com os cuidados de saúde primários”.

Outra das medidas prevista no PPR vai passar pela construção de unidades de internamento agudo nos centros hospitalares gerais, objetivo adiado desde 2011. Nuno Xavier considera que “não há qualquer justificação” para que os utentes estejam internados em hospitais psiquiátricos, sinalizando que alguns estão a ser tratados a 100 quilómetros da sua zona de residência. O plano passa assim por criar novas unidades dentro de hospitais gerais em Santa Maria da Feira, no Centro Hospital do Oeste e no Amadora-Sintra. E Nuno Xavier também quer “organizar os serviços de psiquiatria” com “gestão autónoma”.

Nos hospitais psiquiátricos, Nuno Xavier aponta como principal prioridade transferir cerca de 400 doentes crónicos que estão a residir nesses espaços há anos e colocá-los em “residências na comunidade, com equipas que tratem deles, mas fora do hospital”.

Para concretizar a reforma, o diretor do Programa Nacional de Saúde Mental da DGS espera “apoio político total” e uma “coordenação a sério”. E refere que o financiamento de Bruxelas é controlado e é entregue “à medida que o processo é executado”, o que obriga a que exista “uma estrutura de missão a sério.” 

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