O rei Goodwill Zwelithini morreu hoje aos 73 anos, anunciou o primeiro-ministro tradicional do monarca e da nação Zulu, Mangosuthu Buthelezi, em nome da casa real AmaZulu.

É com a maior tristeza que informo a nação do falecimento de Sua Majestade o Rei Goodwill Zwelithini ka Bhekuzulu, Rei da Nação Zulu”, referiu em comunicado o príncipe Mangosuthu Buthelezi.

No comunicado, o ex-líder do Partido Livre Inkatha (IFP, na sigla em inglês) adianta que “tragicamente, enquanto hospitalizado, o estado de saúde de Sua Majestade agravou-se, e subsequentemente ele faleceu nas primeiras horas da madrugada de hoje [sexta-feira]”.

“Em nome da Família Real, agradecemos à nação pelas contínuas orações e apoio neste momento tão difícil. Que Sua Majestade, o nosso Rei, descanse em paz”, concluiu Buthelezi no comunicado divulgado no sítio de internet do partido.

O monarca Zulu encontrava-se hospitalizado desde fevereiro nos cuidados intensivos de um hospital privado na África do Sul com hipoglicemia, segundo a imprensa sul-africana.

Goodwill Zwelithini ka Bhekuzulu (1948-2021), rei do povo Zulu desde a década de 1960, era o único administrador de cerca de três milhões de hectares de terra sob o Fundo Ingonyama, criado em 1994, para salvaguardar “o bem-estar material e social dos membros das tribos e comunidades” que fazem parte de cerca de 11 milhões de pessoas que habitam a província do KwaZulu-Natal, a segunda mais povoada do país.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Rei zulu rejeita violência contra estrangeiros na África do Sul

Líder tradicional Zulu português recorda Zwelithini como uma pessoa com “grande visão”

José de Castro, o ‘Induna’ (líder tradicional) do monarca Zulu e membro da Casa Real AmaZulu, já reagiu à morte de Goodwill Zwelithini, lembrando que o rei manteve durante 27 anos um acordo de paz com o líder sul-africano Nelson Mandela.

O Rei Zwelithini era um líder com uma grande visão; se há paz na África do Sul, não se deve apenas ao Presidente Mandela, mas igualmente também ao rei Zulu, porque foram os dois que trabalharam em conjunto nesse sentido. Sei disso porque servi de elo de ligação”, referiu, em entrevista à Lusa, José de Castro.

O líder tradicional português da nação AmaZulu recordou a sua relação de quase três décadas com o monarca africano, que morreu no hospital, em Durban, litoral do país, explicando que logo após as primeiras eleições multirraciais e democráticas em 1994, o monarca Zulu enviou o empresário madeirense a Pretória para preparar um encontro com o primeiro chefe de Estado negro da África do Sul, Nelson Mandela.

Na altura julguei que iria acompanhar o rei, mas ele enviou-me primeiro ao Union Buildings [sede da Presidência sul-africana], foi o secretário pessoal do Rei que me levou lá, para preparar o encontro entre os dois líderes”, explicou. “Conversei com o Presidente Mandela, bebi café com Mandela, e depois é que se realizou o encontro com o rei Zwelithini”, frisou José de Castro, salientando que o encontro teve por objetivo discutir as terras do rei Zulu.

O sucesso do Mandela dependia da cooperação e do apoio do Rei, e para mim, o grande valor do Rei foi quando ele, que era anti-Mandela, se tornou pró-Mandela, E houve Paz”, salientou.

Questionado sobre a sucessão de Zwelithini e o futuro político da província do KwaZulu-Natal, José de Castro considerou que a expropriação de terras sem compensação, tal como é preconizada pelo partido de Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) e por Julius Malema, líder do partido de oposição Economic Freedom Fighters (EFF), de esquerda radical, e ex-dissidente do partido no poder, “poderá criar instabilidade” na província mais populosa do país.

“O maior desafio do sucessor do rei será o de dar continuidade à paz que o ‘pai’ estabeleceu com o Mandela, mas vai haver uma reviravolta dentro do KwaZulu-Natal“, adiantou o líder tradicional do monarca Zulu.

Em 2018, Goodwill Zwelithini anunciou uma aliança com o AfriForum, organização da sociedade civil de maioria Afrikaner, para se opôr à expropriação de terras preconizada pelo governo do ANC e do partido EFF.

Goodwill Zwelithini ka Bhekuzulu, rei do povo Zulu desde a década de 1960, era o único administrador de cerca de três milhões de hectares de terra sob o Fundo Ingonyama, criado em 1994, para salvaguardar “o bem-estar material e social dos membros das tribos e comunidades” que fazem parte de cerca de 11 milhões de pessoas que habitam a província do KwaZulu-Natal, a segunda mais povoada do país.

O rei Zulu Goodwill Zwelithini morreu aos 73 anos, no hospital, anunciou o primeiro-ministro tradicional do monarca e da nação Zulu, Mangosuthu Buthelezi, em nome da casa real AmaZulu. O Presidente da África do Sul Cyril Ramaphosa decretou um funeral de Estado, em data ainda por anunciar.

O Líder tradicional português lembra ainda o encontro com Mário Soares

O líder tradicional português do rei Goodwill Zwelithini, José de Castro, destacou um encontro com o ex-presidente português Mário Soares, em Lisboa.

Foi uma viagem à Madeira que fez com a rainha, irmã do rei da Swazilândia, e fomos recebidos pelo presidente Mário Soares, em Lisboa, durante a passagem pela capital portuguesa. Foi uma grande viagem, em que ele se juntou de coração aos madeirenses e aos portugueses em geral, embora o passeio fosse à Madeira, foi essa grande viagem há uns 15 ou 20 anos, talvez”, recordou José de Castro.

O empresário madeirense, de 77 anos, natural de Porto da Cruz, sublinhou, em entrevista à Lusa, que Goodwill Zwelithini foi também condecorado com a Real Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, uma ordem dinástica portuguesa atribuída pelo duque de Bragança.

Após a viagem que organizou na década de 1990 à Madeira para o rei Goodwill Zwelithini e a rainha Manteombi Shiyiwe Zulu, irmã do monarca da Suazilândia (atual Essuatíni), ficou uma amizade.

Criámos uma amizade em que éramos inseparáveis” e que “só se separou agora, de manhã”, disse José de Castro, salientando que recebeu a notícia da morte do monarca na madrugada, através de um telefonema da filha do rei. “Uma das filhas da Rainha estava aqui no Cabo hospedada em minha casa e há dois dias disse-lhe que estava preocupado por os médicos pedirem que as rainhas fossem, uma em cada dia, visitar o rei ao hospital”, adiantou.

Em abril de 1999, o rei Zwelithini e a rainha Manteombi Shyiwe Zulu visitaram a Sociedade Portuguesa de Beneficiência a convite de José de Castro, tal como refere uma placa comemorativa ainda patente na instituição benemérita em Joanesburgo.

“Foi no meu aniversário, o [comendador] Bernardino Faria pediu-me para fazer a festa do meu aniversário lá na Beneficiência e convidei o D. Duarte, o irmão Miguel, o Rei e a Rainha, e o embaixador do Papa”, recordou à Lusa José de Castro.