A ameaça tinha sido deixada em fevereiro, a tomada de posição real chegou este sábado: Wilfried Zaha, avançado marfinense que chegou a representar a seleção inglesa (curiosamente chamado por Roy Hodgson, atual treinador do conjunto do sul de Londres), tornou-se o primeiro jogador da Premier League a não cumprir o ritual de se ajoelhar no início do encontro por considerar que este tipo de ações não está a ter resultados práticos no futebol e na sociedade, algo que já tinha explicado antes, em fevereiro, em declarações ao podcast On The Judy.

“Por que razão tenho de me pôr de joelhos? Por que razão devo ajoelhar-me para os outros verem, para mostrar que nos importamos? Por que devo usar Black Lives Matter na parte de trás da minha camisola, para mostrar a todos que somos importantes? Isto tudo é degradante. Não vou fazer mais nada disto a menos que as coisas mudem porque não vou conversar sobre racismo apenas porque sim. Vemos tudo isto, vemos as plataformas que são criadas mas depois há pessoas que criam contas falsas [nas redes sociais] para abusar de negros constantemente. Essa é parte é que ninguém muda”, tinha afirmado o jogador de 28 anos há três semanas, numa visão que voltou a partilhar depois da vitória do Crystal Palace frente ao WBA por 1-0 com golo de Luka Milivojevic.

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“A minha decisão de ficar de pé já tinha sido partilhada em termos públicos há algumas semanas. Não existe uma decisão certa ou errada mas para mim, pessoalmente, ajoelhar-me antes do jogo estava apenas a tornar-se uma mera rotina e neste momento já não interessa muito se nos ajoelhamos ou se ficamos de pé porque alguns de nós continuam a ser alvos de abusos. Eu sei que existe muito trabalho a ser feito nos bastidores pela Premier League e por outras autoridades para mudar, e respeito por completo isso e toda as pessoas envolvidas. E também tenho total respeito pelos meus companheiros e por todos os jogadores de outros clubes que se continuem a ajoelha”, destacou este sábado Zaha, através de um comunicado enviado através da Roc Nation Sports.

“Enquanto sociedade, penso que devemos encorajar a ter uma melhor educação nas escolas e as empresas de redes sociais e social media devem tomar ações mais fortes contra as pessoas que abusam de outras online – e não falo apenas dos futebolistas. Agora quero apenas focar-me no futebol e aproveitar poder estar de volta aos relvados mas irei continuar a manter-me de pé”, acrescentou o avançado no mesmo comunicado emitido esta tarde.

Umas horas antes, Richard Masters, CEO da Premier League, tinha referido à Sky Sports que os jogadores irão manter esse gesto até ao final da temporada. “É uma grande posição e foi algo liderado pelos jogadores. Passámos muito tempo a falar com os jogadores, foi um tempo de grande emoção durante a pandemia. Voltando ao Project Restart, quando estávamos a falar com os jogadores, eles queriam deixar um statement sobre o seu agradecimento ao Serviço Nacional de Saúde e aos seus profissionais e tomar uma posição sobre os acontecimentos nos EUA no último verão. Estamos muito satisfeitos por ajudar os jogadores. Talvez pela primeira vez temos a Premier League, os clubes e os jogadores na mesma página em relação a um assunto importante”, sublinhou.