A concorrência era feroz. Mohamed Salah, o detentor do título, Jack Grealish, Jamie Vardy, Kevin de Bruyne e Son Heung-min. No fim, a escolha caiu nos ombros de Bruno Fernandes: o médio do Manchester United foi considerado o melhor jogador do ano de 2020 em Inglaterra pela Football Supporters Association, a associação inglesa de adeptos de futebol. Se o feito se torna ainda maior porque esta foi a primeira época de Bruno Fernandes na Premier League, se se torna ainda maior porque Bruno Fernandes estava a concorrer com jogadores de clubes que ficaram melhor classificados na época passada, torna-se gigante porque Bruno Fernandes foi o primeiro jogador do Manchester United a receber esta distinção.

Esta semana, o médio português deu uma longa entrevista à Gazzetta dello Sport — por ter jogado em Itália durante vários anos, entre Novara, Udinese e Sampdoria, e por estar envolvido na eliminatória europeia contra o AC Milan, nos oitavos de final da Liga Europa. Na entrevista, que aconteceu ainda antes de o Manchester United empatar com os italianos em Old Trafford e adiar todas as decisões para a segunda mão, o jogador de 26 anos garantiu que não ficou surpreendido pelo apuramento do FC Porto frente à Juventus e ainda defendeu Cristiano Ronaldo, que esteve toda a semana sob fogo depois dessa exibição menos conseguida contra os dragões.

“Não fiquei surpreendido com o apuramento do FC Porto. Eles têm uma mentalidade vencedora, jogam um futebol agressivo e eu sabia que isso ia dificultar a tarefa da Juventus. O Cristiano Ronaldo é um dos maiores nomes da história do futebol. A mentalidade dele inspira quem joga futebol. Já ganhou muito, mas ninguém consegue ganhar sozinho. Percebo que a presença dele na Juventus tenha criado enormes expectativas para a Liga dos Campeões mas, quando uma equipa perder, perdem todos, não apenas um jogador”, explicou Bruno Fernandes. Na entrevista com o jornal italiano, o internacional português recordou ainda que os motivos que o impediram de se afirmar totalmente em Itália e até de chamar a atenção dos gigantes europeus quando jogava na Serie A.

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“Era muito jovem, tive que completar o meu crescimento, ir de um país para o outro. Em Itália, não consegui afirmar-se totalmente porque a posição de médio ofensivo no nosso futebol não tem uma vida fácil”, disse, acrescentando que o futebol italiano acaba por ser uma espécie de “universidade do desporto” devido à subtileza tática e que a Premier League é mais “intensa”. Bruno lamentou ainda não ter trabalhado mais tempo com Francesco Guidolin, treinador que o orientou na Udinese, e reconheceu que 2020 acabou por ser um ano “especial”, devido à transferência para o Manchester United. Por fim, deixou escapar uma surpresa. Quando questionado sobre o porquê de assistir aos jogos de outros Campeonatos, de ler sobre futebol, de fazer perguntas aos mais entendidos e de tirar apontamentos sobre o que vê, respondeu prontamente: “Porque um dia gostava de treinar”.

Este domingo, Bruno Fernandes era naturalmente titular na receção do Manchester United ao West Ham, que surgia no meio da eliminatória europeia com o AC Milan e depois da vitória contra o City no Etihad, no fim de semana passado. Com muitas lesões no plantel — Cavani, Martial e Juan Mata estão todos indisponíveis, De Gea está de quarentena porque foi a Espanha assistir ao nascimento do filho –, Solskjaer tinha no regresso de Rashford a única boa notícia, já que o avançado inglês era titular no ataque da equipa. Daniel James e Greenwood também surgiam no onze, enquanto que a dupla McTominay/Fred era responsável pelo meio-campo, com Matic a começar no banco. No West Ham, a grande ausência era Jesse Lingard, avançado inglês que tem sido uma das figuras da equipa nesta segunda metade da época e que estava impedido de jogar por estar emprestado pelos red devils.

A ideia do Manchester United, de forma natural, era voltar ao segundo lugar da Premier League, perdido provisoriamente para o Leicester depois da vitória dos foxes frente ao Sheffield United. Do outro lado, e depois da derrota do Tottenham no dérbi contra o Arsenal, o objetivo da equipa de David Moyes passava por cimentar a quinta posição e afastar-se tanto dos spurs como do Everton. Numa primeira parte que terminou sem golos, as grandes oportunidade pertenceram a Rashford e Greenwood, com o primeiro a falhar o desvio de cabeça na sequência de um cruzamento (25′) e o segundo a ver Fabianski empurrar um remate para o poste depois de uma assistência de Bruno Fernandes (37′).

A equipa de Solskjaer teve sempre mais bola e assumiu um ascendente claro na partida mas não conseguiu transformá-lo em vantagem: o West Ham defendia muito bem, com muitos elementos no corredor central e nas imediações da grande área, e obrigava o adversário a explorar os corredores ou a tirar sucessivos cruzamentos para perto da baliza. Os hammers estavam confortáveis, até porque a ideia era explorar a profundidade e o contra-ataque assim que o United perdesse a bola, e os red devils iam somando ataques infrutíferos, remates contra os defesas e cruzamentos sem destinatário.

Manchester United v West Ham United - Premier League

Rashford voltou ao onze depois de ter estado lesionado e desperdiçou uma das melhores oportunidades do Manchester United na primeira parte

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o golo da vitória não demorou sequer 10 minutos a chegar. Bruno Fernandes bateu um pontapé de canto na direita, McTominay fez-se ao cabeceamento ao primeiro poste mas deixou a bola passar e acabou por ser Dawson, o central do West Ham, a empurrar para dentro da baliza (53′). Até ao final, sem substituições de Solskjaer e entre vários lances em que o médio português ficou com dificuldades físicas, o Manchester United até teve espaço para explorar as costas da defesa adversária mas não conseguiu aumentar a vantagem, carimbando os três pontos pela margem mínima. No fim, um autogolo chegou para ultrapassar o Leicester e voltar ao segundo lugar. E também existem dias destes, em que um autogolo sabe a uma goleada contra uma equipa difícil de enfrentar.