Numa semana marcada pelas apresentações do plano de desconfinamento e do plano económico e social, Luís Marques Mendes distribui elogios e críticas ao Governo. No habitual comentário semanal no Jornal da Noite da SIC, o comentador apontou o plano económico e social como uma “desilusão, ao contrário do plano de desconfinamento”.

“É baralhar e dar de novo e tem pecados capitais”, aponta, ao deixar três alertas: as moratórias, a insuficiência dos apoios económicos diretos e a burocracia e a ineficácia da máquina do Estado. Marques Mendes recorda que em setembro os pagamentos dos créditos são retomados e há muitas empresas, nomeadamente as pequenas e médias empresas, que “não vão ter possibilidade de pagar”. Neste sentido, e apesar de admitir que a decisão de prorrogar moratórias não é nacional, insiste que Portugal deve “negociar” esta matéria no quadro europeu.

Já os apoios económicos diretos são “uma gota no oceano” e representam cerca de 11,2% do PIB, o que diz, contrasta com os 23,5% em França, 38,9% na Alemanha e 42,3% em Itália. O comentador considera que “querer poupar agora vai ter consequências sérias no futuro” porque há empresas que vão à falência e gasta-se “muito mais” em subsídios de desemprego. Marques Mendes acredita que há “falta de visão estratégica”.

Por outro lado, também o tema da burocracia e a ineficácia da máquina do Estado foi abordado por Marques Mendes, que disse que as pessoas se queixam que os “apoios ou não chegam ou chegam tarde e a más horas”. “É tudo lento, confuso e burocrático”, realça.

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Plano de desconfinamento é “claro, objetivo e transparente”

Em sentido contrário, Marques Mendes elogiou o plano de desconfinamento do Governo, considerando-o “equilibrado, prudente, cauteloso e diferente do plano do ano passado porque é alicerçado em orientações dos especialistas”. Aos olhos do comentador, trata-se de um plano “positivo” que tem uma base científica e que “tem um acelerador e dois travões”, ou seja, há possibilidade de abrir economia e sociedade, mas “se coisas correrem menos bem há dois travões”.

Nas medidas restritivas estabelecidas para a Páscoa, Marques Mendes considera que o Governo foi “muito correto” ao proibir a circulação. “Fez aquilo que não fez e devia ter feito no Natal, aprendeu com o erro”, apontou, ao acrescentar que está em causa um plano “muito claro, objetivo e transparente”

Apesar dos elogios ao plano, Marques Mendes pede “muita cautela” na abertura das fronteiras, porque pode haver “problemas sérios” com a circulação de cidadãos. No mesmo sentido, é preciso “grande cautela” no crescimento das variações do novo coronavírus. Também o rastreio e testagem têm de estar no topo das prioridades porque o “importante é desconfinar”, mas que Portugal se mantenha “na zona verde” definida pelo Governo.

Falta de sintonia entre Marcelo e Costa? “Especulações houve muitas”

Relativamente à alegada falta de sintonia entre Presidente da República e Governo, o comentador diz que “especulações houve muitas”. Depois de ouvir declarações de Costa e Marcelo, Marques Mendes considera que “são mais as vozes do que vozes”. “Não vale a pena fingir, há sensibilidades diferentes desde o início”, sendo o Presidente “mais sensível à questão da saúde” e o primeiro-ministro às questões da economia.

“São mais as especulações do que a realidade. Não vejo nenhuma divergência de fundo”, enaltece, referindo que é bom para a democracia que haja divergências, mas em altura de pandemia “quando não há sintonia ou há divergência gera-se um sentimento de insegurança” na população.