O número de contratações no Serviço Nacional de Saúde disparou, tendo atingido um máximo absoluto em janeiro deste ano, adianta a notícia que faz manchete do jornal Público esta segunda-feira. No entanto, será preciso olhar para estes números com cuidado: não só boa parte dos contratos será a prazo, como é expectável que durante o ano os números vão caindo sustentadamente.

Primeiro, as boas notícias: segundo as contas feitas pelo jornal com recurso ao Portal da Transparência do SNS, graças à pandemia as contratações aumentaram de forma clara no SNS e, em janeiro deste ano, o SNS contava com 147.074 trabalhadores, mais 9889 do que em janeiro de 2020, antes de o país ter sido atingido pela pandemia de Covid-19. Estes números referem-se tanto a médicos como a enfermeiros e assistentes operacionais, assim como assistentes técnicos e técnicos de diagnóstico e terapêutica.

No entanto, advertem ao Público vários profissionais e representantes dos trabalhadores e hospitais, é preciso ter cuidado com a análise que se faz a estes números: estas contas incluem todo o tipo de contratos, incluindo os precários, pelo que o disparar das contratações pode tratar-se, em parte, de uma ilusão.

Além disso, é natural que em janeiro, mês em que todos os anos os internos saídos da faculdade são colocados nos serviços do SNS, o número aumente claramente; o problema é que nem a retenção é um dado adquirido nem se pode dizer que o número se vá manter durante o ano.

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No ano passado, já em plena pandemia, uma das discussões centrais no âmbito do Orçamento do Estado, entre Bloco de Esquerda e Governo, teve precisamente a ver com estes números e a sua correta interpretação: se o Executivo garantia que o número de profissionais no SNS tinha aumentado desde o início do ano, o Bloco insistia que não só isso não era verdade como o número teria, de facto, decrescido. A verdade poderia estar dos dois lados, mas a diferença era o ponto de partida: como o Observador explicou na altura, além das discordâncias sobre o tipo de contratos aceitáveis (o BE defendia medidas para a exclusividade das carreiras no SNS), o Executivo estava a fazer as contas partindo de dezembro de 2019, contando por isso com o tal acréscimo que é expectável em janeiro; o BE contabilizava os médicos a partir de janeiro, pelo que o que registava desde então era uma quebra, tendo em conta, por exemplo, as reformas e saídas de outros profissionais do SNS. As contas nunca são, por isso, lineares.