As necessidades das crianças deslocadas em Cabo Delgado, norte de Moçambique, “superam em muito os recursos disponíveis para apoiá-las” e muitas vezes elas são o alvo de violência, alertou esta terça-feira a organização humanitária Save the Children.

A ajuda é desesperadamente necessária, mas poucos doadores priorizaram a assistência para aqueles que perderam tudo e para os seus filhos”, numa altura em que o mundo lida também com a Covid-19, refere Chance Briggs, diretor da organização em Moçambique, citado em comunicado.

“Enquanto o mundo estava focado na Covid-19, a crise de Cabo Delgado cresceu e foi menosprezada”, acrescentou.

Cabo Delgado, em Moçambique, vive a pior crise humanitária das últimas décadas

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A Save the Children referiu que “quase um milhão de pessoas enfrenta fome severa” como resultado direto da onda de deslocados provocada pelo conflito armado na região, incluindo pessoas deslocadas e comunidades anfitriãs.

Como reflexo da pirâmide etária do país, cerca de metade das pessoas afetadas pela violência são menores de 18 anos, presenciando muitas vezes morte e destruição e sendo elas próprias alvo das partes em conflito.

“Todas as partes devem garantir que as crianças nunca sejam alvos. Devem respeitar as leis humanitárias internacionais e de direitos humanos e tomar todas as ações necessárias para minimizar os danos civis, incluindo o fim de ataques indiscriminados e desproporcionais contra crianças”, acrescentou a Briggs.

Os relatos de ataques a crianças incomodam-nos profundamente. A nossa equipa foi levada às lágrimas ao ouvir as histórias de sofrimento contadas por mães em campos de deslocados”, sublinhou.

A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária, com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.

Algumas das incursões de rebeldes foram reivindicadas pelo grupo “jihadista” Estado Islâmico entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.

A situação de insegurança levou a petrolífera Total a diminuir o número de trabalhadores e a abrandar os trabalhos no megaprojeto de gás na região, até que seja garantido um perímetro de segurança pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas. No entanto, mantém-se a previsão de início de exportação de gás natural liquefeito em 2024.

Moçambique. Redução de pessoal já começou nos megaprojetos de gás da Total