O mercado global da arte caiu 22% em 2020, devido à pandemia, gerando a maior quebra num só ano, desde a recessão de 2009, mas as vendas ‘online’ duplicaram, indica o relatório anual da feira de Basileia com o banco UBS. No mesmo período, o setor perdeu 4% dos postos de trabalho, em relação a 2019, garantindo emprego a 2,9 milhões de pessoas, no final do ano passado.

De acordo com o relatório “The Art Basel/UBS Global Art Market 2021”, divulgado, que reúne dados fornecidos por galerias, colecionadores, casas de leilões e outros agentes do setor, relativos à atividade durante 2020, o mercado de vendas atingiu os 50,1 mil milhões de dólares (41,98 mil milhões de euros), no final do ano passado.

Apesar da quebra de 22%, em 2020, o documento indica que as vendas de arte ‘online’ duplicaram, atingindo uma movimentação recorde de 12,4 mil milhões de dólares (10,39 mil milhões de euros), com a quota das receitas dos negociadores, neste formato, a triplicar de 13% para 39%.

Segundo o relatório, Estados Unidos, Reino Unido e China dominam o mercado digital, mobilizando, em conjunto, 82% das vendas: neste segmento, os Estados Unidos representam 42%, seguindo-se o Reino Unido, com 20%, à semelhança da China.

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Relativamente às casas de leilões, os resultados foram mistos, com as vendas em formato ‘online’ a subir 36%, para 3.2 mil milhões de dólares (2,68 mil milhões de euros), enquanto as vendas presenciais tiveram uma quebra de 30% nos resultados, para 17,6 mil milhões de dólares (14,74 mil milhões de euros).

Mais de metade das feiras de arte foram canceladas (61%), proporcionando aos negociantes de arte apenas 13% do seu rendimento, mas com o seu regresso, este ano, deverão voltar também 80% dos colecionadores milionários, preconiza o relatório.

Ainda relativamente aos colecionadores, foi manifestado um aumento do interesse no mercado da arte na chamada geração Y (Millennials em inglês, a geração do milénio) a mostrar-se a mais gastadora, mais de um terço deles com compras acima de um milhão de dólares (837 mil euros).

Segundo o relatório, o gasto médio dos colecionadores subiu 13%. Os colecionadores compraram de forma conservadora, com quase metade (46%) focados em galerias onde são clientes habituais. O relatório sublinhou ainda o papel das redes sociais, durante a pandemia, considerando-as um canal determinante para expandir mercados, chegar a novos públicos e ampliar vendas.

“The Art Basel/UBS Global Art Market 2021” indica que um terço dos colecionadores de arte admitiram ter usado o Instagram, em 2020, para decidirem sobre transações. E perto de metade dos compradores (45%) asseguraram ter feito pelo menos uma compra através das salas virtuais abertas por galerias e feiras, em alternativa ao mercado presencial, segundo o documento.

“The Art Basel/UBS Global Art Market 2021” indica igualmente que, em 2020, o mercado global da arte mobilizou 2,9 milhões de trabalhadores, menos 4% do que no ano anterior, e mais de 300 mil empresas.

Na segunda-feira, também foi divulgado o relatório da empresa francesa Artprice, sobre o mercado internacional de arte em 2020, que indicava quebras de faturação da ordem dos 21%, e a viragem substancial dos negócios para o mundo digital, devido à pandemia.

Publicado anualmente pela empresa líder de informação sobre o mercado de arte, o relatório da plataforma Artprice reúne sobretudo os resultados do volume de negócios, em leilão, de peças de arte, datadas do século XVII até à atualidade, em pintura, escultura, desenho, fotografia, gravura, vídeo, instalações, tapeçaria, excluindo mobiliário e automóveis.

Sob confinamentos sucessivos, em muitos países, ao longo de 2020, os leilões de arte à distância tornaram-se o ‘novo normal’, assim como vendas totalmente ‘online’, sem leiloeiro, indicava o mais recente relatório da empresa francesa, que gere uma base de dados de centenas de milhares de transações, em leilão, e de valores de vendas de mais de 630 mil artistas.

O desempenho chinês é o que mais se destaca no documento da Artprice relativo a 2020: a China atingiu o primeiro lugar em volume de negócios no setor, depois de ter ficado quatro anos atrás dos Estados Unidos, e pesando atualmente 39% deste mercado das artes.

Do ‘bolo’ das vendas, 27% ficam para os Estados Unidos, onde o impacto da pandemia teve fortes repercussões, enquanto o Reino Unido atinge 15%. “A China soube criar um mercado interno, com limitações das exportações, e viu nascer novas casas de leilões”, notou Thierry Ehrmann. Depois de um primeiro semestre de 2020 marcado pelo confinamento, as vendas tiveram forte evolução no país.

Na Europa, a França sofreu uma forte queda, com um volume de negócios de 483 milhões de euros, menos 31% do que em 2019, na linha das quebras do Reino Unido (-30%), e da Itália (-32%). A Alemanha, no entanto, concluiu o ano no verde, menos afetada pela pandemia, com uma subida de 11% nas vendas. Nas transações de 2020, destacam-se o tríptico do artista irlandês Francis Bacon, por 84,6 milhões de dólares (cerca de 75 milhões de euros), num leilão realizado pela Sotheby’s, em Londres, já sem presença de público.