A Football Association (FA), entidade que controla e supervisiona todo o futebol inglês — o equivalente em Inglaterra à Federação Portuguesa de Futebol —, foi durante anos incapaz de proteger crianças contra abusos sexuais perpetuados no futebol de formação do país. É o que diz um relatório produzido após uma extensa investigação, que imputa à FA “falhas institucionais” e inação no combate a crimes sexuais contra jovens no futebol.

O documento é contundente. Nas cerca de 700 páginas, lê-se a acusação de que a Football Association agiu de forma extraordinariamente demorada e negligentemente lenta, não introduzindo “medidas apropriadas para a proteção de crianças”.

Até 1995, “o abuso de crianças era tendencialmente visto como algo que ocorria na família ou em ambientes residenciais e não no mundo do desporto”, pelo que a associação de futebol inglês não pode ser individualmente responsabilizada, defende o relatório. Porém, depois desse ano — quando já eram conhecidos casos e denúncias de abusos sexuais a crianças no futebol de formação, como o que envolveu o técnico e antigo jogador Barry Bennell —, exigia-se rapidez na reação e na adoção de políticas de proteção de crianças. E a Football Association falhou.

Há falhas institucionais significativas para as quais não há desculpa. Durante este período, a FA não fez o suficiente para garantir a segurança das crianças”, acusa o relatório.

A investigação independente à FA foi conduzida pela empresa Clive Sheldon GQ, que responsabiliza a principal associação do futebol inglês por deixar que as crianças jogassem futebol em clubes ingleses ao longo dos anos estando expostas a um risco acrescido de sofrerem abusos sexuais.

As conclusões da investigação não foram contestadas pela entidade reguladora do futebol inglês, que assumiu os erros e prometeu não os cometer daqui em diante — adotando ao invés, com rigor, as políticas de proteção de jovens futebolistas recomendadas.  “É um dia sombrio para este jogo tão bonito”, reconheceu o presidente executivo da associação, Mark Bullingham, que pediu “sinceras desculpas” às vítimas e a todos os que ficaram prejudicados com a inércia da FA. “É um dia no qual devemos reconhecer os erros do passado e garantir que fazemos tudo o que é possível para evitar que se repitam”, acrescentou.

A investigação à FA concluiu ainda que ao longo dos anos diversas denúncias e rumores relativos a abusos sexuais em escalões de formação de oito clubes profissionais (Chelsea, Aston Villa, Newcastle United, Southampton, Peterborough, Manchester City, Crewe Alexandra e Stoke City) não foram devidamente investigados, nem pelos clubes nem pela Football Association.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR