Uma equipa de investigadores, incluindo do Instituto de Astrofísica e Ciência do Espaço (IA), recorreu a observações do espetrógrafo MUSE e conseguiu observar filamentos cósmicos numa altura em que o universo tinha menos de 15% da idade atual.

Em comunicado, o IA esclarece quinta-feira que a equipa recorreu ao espetrógrafo MUSE, instalado no telescópio VLT do Observatório Europeu do Sul (ESO), para fazer “o mais profundo levantamento espetroscópico até hoje”.

Tendo por base as observações do MUSE, os investigadores conseguiram observar filamentos cósmicos numa altura em que o universo tinha menos de 15% da idade atual.

Estas observações do universo jovem, com um a dois mil milhões de anos após o Big Bang, publicadas quinta-feira na revista científica Astronomy & Astrophysics, revelaram ainda a existência de “inúmeras galáxias anãs, que até aqui nem se suspeitava que existissem”.

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Citado no comunicado, o investigador do IA e da Universidade do Porto, Jarle Brinchmann, afirma que esta observação “revelou galáxias inteiras mais ténues do que a estrela Rigel, 1 das 10 mais brilhantes no nosso céu”.

O conjunto destas galáxias ilumina o universo primordial como pequenos candeeiros públicos no meio de um nevoeiro de gás hidrogénio”, esclarece o investigador.

O universo é formado por uma estrutura filamentar de gás – “uma autêntica teia cósmica” – ao longo da qual se formam as galáxias.

Os modelos teóricos preveem que o gás que compõe os filamentos, quando exposto a radiação, “adquire uma certa incandescência”, tão “ténue” que estes nunca tinham sido observados diretamente.

Observar as zonas mais densas da “teia cósmica” – designadas de “nós” – onde se encontram astros cuja intensa radiação consegue aumentar o brilho da teia nessa região [quasares] só se tornou tecnicamente possível recentemente.

“Para resolver este problema” os investigadores apontaram o VLT durante mais de 140 horas para a região do céu conhecida como Campo Ultra Profundo do Hubble, “uma das imagens mais profunda do cosmos até agora obtida”.

Para tirar partido da ótica adaptativa e capacidade espetroscópica do MUSE, a equipa, liderada por Roland Bacon, fez um mapa de vários pedaços de filamentos no universo quando este tinha apenas um a dois mil milhões de anos após o Big Bang.

“As imagens também revelaram que 40% das galáxias agora descobertas são tão ténues que não eram visíveis na imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble”, esclarece o IA, acrescentando que a “maior surpresa” ocorreu quando as simulações revelaram que uma fração significativa da luz difusa tem origem num “enorme mar de galáxias anãs de luminosidade ultra-fraca”.

“Estas galáxias são tão pouco brilhantes que não seria possível detetá-las individualmente com os meios atuais, mas a sua existência tem consequências importantes para os modelos de formação de galáxias, consequências que só agora os cientistas vão começar a explorar”, refere o instituto.

No comunicado, o investigador da Universidade do Porto revela ainda ter ficado “surpreso” com a descoberta.

Quando fazes algo que nunca ninguém fez, corres o risco de o universo te revelar os seus segredos. É incrível pensar que estamos a ver o brilho, na alvorada do próprio universo, de galáxias tão pequenas que seria difícil vê-las mesmo que estivessem nas proximidades da nossa galáxia, a Via Láctea”, afirma Brinchmann.