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Parceiros Na Criação. Quando o vinho é um dote de casamento

Este artigo tem mais de 3 anos

João e Joana. Ele representa o Douro e ela o Tejo. Juntos, no vinho e na vida, são os responsáveis pelo Dote, nome que simboliza a origem do projeto Parceiros Na Criação e a união de duas regiões.

O projeto Parceiros Na Criação teve os primeiros vinhos a chegar ao mercado em 2013
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O projeto Parceiros Na Criação teve os primeiros vinhos a chegar ao mercado em 2013

© Lino Silva

O projeto Parceiros Na Criação teve os primeiros vinhos a chegar ao mercado em 2013

© Lino Silva

A terra duriense que João Nápoles de Carvalho trabalha ativamente desde a década de 1990 foi o dote de casamento que o bisavô Artur de Magalhães Pinto Ribeiro, primeiro presidente da histórica Casa do Douro, deu à filha em 1931. Anos e gerações depois, João começa a tomar conta da área que então pertencia ao pai, a “parte de cima” da Quinta de Monte Travesso. Não o faz por obrigação, mas por um gosto que se mantém até aos dias de hoje, altura em que outro Dote, nascido uma vez mais de um casamento, vê a luz do dia — mas já lá vamos.

João Nápoles percebeu desde logo que este era um projeto de vida. Teve a “sorte” de ter a terra com que trabalhar, mas havia muito que fazer, sobretudo nas vinhas existentes que precisavam de ser reestruturadas. O esforço acrescido não o desmotivou, antes pelo contrário, e despertou o desejo de produzir vinho. Com esse percurso em mente, licenciou-se em Gestão Agrária pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e fez várias formações em vinha e vinho. Embora nascido em Espinho, a primeira infância foi passada na propriedade de raízes fixas em Barcos, Tabuaço, onde vive a tempo inteiro desde 1998. E não vive sozinho: a vida trouxe-lhe o casamento com a ribatejana Joana Pratas e o projeto vínico a que ambos se lançaram. Atualmente, são Parceiros Na Criação (PNC) — na vida e no vinho.

Joana Pratas e João Nápoles com os dois filhos, Teresinha e António (© Gonçalo Villaverde)

© Gonçalo Villaverde

Se inicialmente vendiam, de forma exclusiva, a uva a terceiros, com o tempo passaram a produzir o próprio vinho. Em 2013 chegavam ao mercado um branco, um tinto e um azeite com o nome “h’OUR”. “Até brincávamos que o branco era eu, o tinto o João e o azeite a Teresinha”, lembra Joana Pratas, referindo-se à primeira filha do casal, nascida em 2013. Um ano depois era a vez de uma nova referência e da vinda do pequeno António.

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Embora haja uma ligação ao vinho de há muitos anos, tendo em conta a família de João Nápoles, a PNC é tida como um projeto novo que acabou por ser reestruturado em 2018, quando o casal percebeu que o nome “h’OUR” não estava a funcionar tão bem quanto o desejado. “A certa altura sentimos que o projeto não estava a ter aquela aceitação… Os nossos distribuidores passaram-nos a informação de que as pessoas esperam do Douro uma coisa mais tradicional, ainda para mais considerando um projeto com quantidades pequenas.”

Os desafios de criar uma identidade vínica implicaram ajustes e, anos depois, as esteiras a proteger as portas da casa edificada na quinta serviram de inspiração para novas marcas: “Casa da Esteira” (Vinhas Velhas branco, Reserva tinto e Touriga Nacional, 17 euros) e “Esteira” (branco e tinto, 9 euros). É, então, que surge o Dote (20 euros): “Se fosse há uns anos não arriscaríamos fazer isto”, comenta Joana. “Foi quando o distribuidor pediu para mudarmos a marca que começámos a maturar a ideia. 2018 foi quase um ano de recomeço, de mudança e de confirmação”. Não é por acaso que o Dote, vinho branco que agora é apresentado, é da colheita desse mesmo ano.

O Dote, colheita de 2018, custa 20 euros e combina uvas de duas regiões: Douro e Tejo (© Lino Silva)

© Lino Silva

Um vinho que simboliza um duplo casamento

Juntar Douro e Tejo na mesma garrafa foi uma ideia pensada pelo casal que ambicionou engarrafar as respetivas origens. O facto de Joana trabalhar em comunicação na área do vinho, e consequentemente fazer assessoria para a CVR do Tejo, ajudou a tomar decisões: “Decidimos apostar na casta Fernão Pires dada a relação sanguínea com uma região que é a minha”, defende. “Então, porque não juntar Vinhas Velhas e Fernão Pires? O mais expressivo do Douro e o mais expressivo do Tejo.”

Fernão Pires. Uma viagem ao centro da casta “que não é tímida nem espampanante”

A experiência foi feita “um pouco às cegas”, mas resultou. No Tejo, as uvas foram compradas a um primo da mãe de Joana. Não foram só os laços familiares que seduziram o casal, mas também as vinhas de Fernão Pires que, ao contrário do que ali é praticado, foram vindimadas à mão. “Levei um baile”, graceja João, que desceu ao Tejo para controlar a recolha das uvas. “Passei parte da manhã a ouvir piadas da parte dos trabalhadores por causa das tesouras, porque já não pegavam nelas há não sei quantos anos. Para eles foi efetivamente engraçado”, comenta, para depois enunciar as diferenças de viticultura entre Douro e Tejo que vão muito além da vindima mecânica versus manual, incluindo a rega que não existe no Douro e é comum no Tejo. E se na última região o terreno é plano, lá em cima “é tudo menos direito”.

João e Joana foram buscar à uva Fernão Pires frescura e vivacidade, características complementadas com as Vinhas Velhas da década de 1970, plantadas a 500 metros de altitude — se a primeira oferece o nariz ao lote, as segundas destacam-se pelo corpo. “Acho que está aqui um bom casamento, aquilo que entendemos que seja a identidade do Douro e a do Tejo”, garantem. “São duas realidades que se complementam. As castas brancas do Douro, salvo algumas exceções, não são muito expressivas no nariz, têm outras características. A vinha velha tem mais estrutura, acidez, estamos em altitude. Acabou por funcionar muito bem”, salienta João.

As uvas não foram vinificadas em conjunto e o vinho — que fermentou e estagiou em barricas de carvalho húngaro — foi o resultado de uma enologia “muito rudimentar” dado que o casal procura interferir o menos possível. O vinho está agora a ser lançado e já há quem pergunte por um Dote tinto, o que os faz pensar no Castelão do Tejo. Mas, para já, os planos passam por desenhar um monocasta Trincadeira das Pratas. “Dar-me-ia imenso gozo fazer um vinho que tem o meu nome”, atira Joana.

Até lá, a família vai vivendo o vinho em conjunto, com os filhos a terem, cada um, a respetiva vinha — a Teresinha com o Rabigato e o António com o Viosinho. Como se isso não bastasse, todos os dias ao jantar, os filhos cumprem a tradição não oficial de mergulhar a ponta do dedo no copo de vinho dos pais. Afinal, eles são fruto de um duplo dote.

O projeto ainda tem não site, mas a presença é ativa nas redes sociais, seja no Facebook ou no Instagram, plataformas a partir das quais é possível comprar vinho de forma direta;à venda na loja online Viva ao Vinho, em restaurantes e garrafeiras; Casa da Esteira, Quinta de Monte Travesso de Cima, Barcos, Tabuaço, Portugal

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